Foi quando tinha apenas 13 anos que o mundo de Diego Schwartzman desabou. O médico acabara de anunciar aquilo que o miúdo mais receava: a sua altura não ia ultrapassar os 1,70m. Mais tarde, já em casa, disse aos pais “não vou jogar mais ténis”. Hoje – passados 12 anos e apesar de o médico ter acertado na sua previsão – o petiz cresceu. No passado domingo, ninguém viu um rapaz de 1,70m. Os olhos dos brasileiros ergueram-se e bem lá em cima avistaram Schwartzman, tão alto como o Cristo Redentor e rei do Rio de Janeiro.
O sonho que podia ter terminado na fatídica visita ao médico acabou por manter-se bem vivo. Culpa da sua família que, mais teimosos que nunca, determinaram-se a reerguer as esperanças do júnior lá de casa. A claque sempre foi liderada pela sua mãe, Silvana, que se recorda bem desses tempos.
“Ele disse-me que não ia suceder em nada na vida se o médico estivesse certo. E eu disse-lhe que estava errado, que a sua altura não devia ter influência nos seus sonho porque desde o dia que nasceu eu sabia que ele se tornaria em algo especial. Puxei por ele para continuar a lutar”, lembrou ao website do ATP World Tour.
Se há força que não deve ser subestimada neste Mundo, é a determinação de uma mãe empenhada em lutar e ajudar o seu filho a vingar na vida. Silvana tinha consciência de que o ténis era um desporto difícil de financiar, e além de quatro filhos para sustentar, a empresa da família dedicada a vestuário e bijutaria acabou por falir no final dos anos 90.

Embora parecessem demasiados os obstáculos no caminho do seu rebento, Silvana – que chegou a jogar ténis amador – nunca desistiu. Num dia como outro qualquer, viu o seu Diego na cozinha a bater bolas usando apenas e só uma colher de sopa. A imagem ficou marcada para sempre na sua cabeça, e foi aí que teve a certeza: o seu destino é ser jogador de ténis.
“Ele tinha um excelente timing desde pequeno. O Diego passava horas nos courts com o meu marido e na altura nem chegava à altura da rede. Mesmo assim, ele nunca queria jogar com uma raquete júnior, tinha de ser sempre uma das grandes. Ele tinha toque de bola e vencia adversários muito mais altos que ele“, recordou.
Apelidado após o (também) pequeno astro do futebol Diego Maradona, vivendo na Argentina e tendo como ídolo outro ícone local, Juan Roman Riquelme, inevitavelmente a infância de Schwartzman era dividida entre as práticas de futebol e ténis. Embora a certa altura estivesse mais inclinado para bater bolas com os pés, a sua natural habilidade com a raquete falou mais alto e convenceu o antigo centrocampista a trocar os campos de futebol pelos courts de ténis.

Mas como sustentar tudo o que o ténis exige? As viagens, hotéis e equipamentos englobavam a maior parte dos gastos. Por isso, Silvana e o marido vestiram a capa de super pais e colocaram mãos à obra. Pegaram em pulseiras de borracha que sobraram do seu anterior negócio, e criaram um novo conjunto de pulseiras personalizáveis com frases e símbolos variados. Ao mesmo tempo que o filho competia, a mãe, com dois sacos cheios às costas, acompanhava-o sempre e vendia as pulseiras entre torneios e jogos.
A ideia rapidamente se tornou moda e todos os miúdos desejavam exibir a sua no pulso. De 3 em 3 pesos (moeda utilizada na Argentina), o pequeno negócio ia dando algum lucro indispensável para cobrir as despesas. Schwartzman tornou-se tenista em full time e homem de negócios em part time.
Ao longo do tempo, a qualidade do agora número 18 do ranking mundial falou por si e nunca mais parou de crescer – em todos os sentidos. A sua mãe, ainda hoje mantém os pés bem assentes na terra, com as lembranças do tempos difíceis fortemente cravadas na memória.
“Tudo foi apreciado de uma forma muito especial devido a tudo o que nós passámos. Sem os esforços de todos – do seu pai, irmãos e irmã – ele nunca teria chegado onde está agora”, concluiu.