Frederico Marques: “Estamos melhor do que quando começámos, mas ainda falta muito”

Beatriz Ruivo/FPT

LISBOAJoão Sousa e Frederico Marques já não passavam tanto tempo em Portugal desde que fizeram as malas e se mudaram para Barcelona, há mais de uma década, e concluída a segunda etapa do Circuito Sénior FPT estão novamente de malas feitas para o regresso à Catalunha, mas antes da viagem houve tempo para um balanço àquelas que foram as primeiras semanas em contexto de competição desde o início de março.

“Faltou o que tem vindo a faltar desde a lesão do João no final de julho, início de agosto. Tivemos de jogar muito tempo com dores e falta-nos a dinâmica, a ligeireza que era habitual no João, a agressividade no jogo de pés, conseguir ocupar o campo todo e comandar o ponto com a direita, o correr sem pensar que vai ter dor numa ou outra posição. Está a faltar-nos recuperar de posições de desvantagem e agressividade de pernas para bater a bola mais na subida. Neste momento não há desculpas, já não existem dores”, começou por referir o treinador depois da derrota para Frederico Silva na final no Lisboa Racket Centre.

“Falta voltar a jogar de maneira autónoma, sem pensar que vai ter dor ou que pode acontecer alguma coisa, porque o que nos andava a acontecer era o João estar bem e num momento ou outro a dor aparecer e não ir embora. Psicologicamente não é fácil aceitar isso, porque ele jogou assim durante muito tempo”, acrescentou Frederico Marques, antes de acrescentar que “quando competimos queremos sempre ganhar, mas o que queríamos era jogar o máximo de jogos possível. Na primeira semana fomos eliminados na fase de grupos, esta semana em termos de volume de jogos já correu melhor porque jogámos todos os que nos eram possíveis, mas em termos de nível faltou bastante.”

Frederico Marques não tem dúvidas de que ao longo das duas semanas de Circuito Sénior FPT “fomos de menos a mais”, mas reconheceu que “na final encontrámos um Frederico Silva que é jogador do top 200 ATP há muito tempo e ainda não estamos nesse nível, ele foi superior em quase todos os aspetos: respondeu melhor, foi mais agressivo, defendeu melhor e colocou-nos em situações de defesa.”

No entanto, o treinador do melhor tenista português de todos os tempos salientou que “ainda falta um mês e meio para o João começar a competir no circuito ATP e temos de recuperar o caminho que fomos perdendo ao longo dos últimos meses devido à lesão. Falta aquele piloto-automático que lhe é tão característico. Estamos melhor do que quando começámos, mas ainda falta muito para termos o João ao nível top 100.”

Quanto ao regresso, está bem definido: no final da semana, Frederico Marques e João Sousa vão viajar para Barcelona, continuando em cima da mesa uma semana de treinos com Daniil Medvedev, no Sul de França; no final do mês competem no torneio de exibição organizado por Juan Carlos Ferrero, em Alicante, e “a 5 de agosto voltamos para Barcelona e a ideia é viajarmos para os EUA entre dia 10 e 11 para recomeçarmos o circuito a 17 de agosto, em Washington”.

E a ideia é clara: “Vamos competir em tudo o que conseguirmos: Washington, Cincinnati, US Open e no caso do João não conseguir chegar à segunda semana jogamos Kitzbuhel. Depois Madrid, Roma e Roland-Garros, tudo o que é possível. Queremos competir.”

Na análise à semana, Frederico Marques também se debruçou sobre as perdas de concentração de João Sousa nos encontros com Nuno Borges e Frederico Silva, que tiveram origem em duas chamadas dos juízes-de-linha: “Isso faz parte da própria frustração do encontro, do João sentir que não está suficientemente rápido e que não está a controlar as posições no campo e a dominar como está habituado. Esse nervosismo de sentir que não está a defender e a atacar tão bem, a depender só dele, afeta-o e nessas situações ele tende a agarrar-se a outras coisas, como a chamada de uma bola, uma pessoa a passar ou o adversário a dizer qualquer coisa. Não foi de forma alguma uma coisa tática, foi mesmo uma perda de controlo.”

“Não reagiu como eu gostava. Viu-se claramente que tanto na semana passada como nesta depois desses momentos ele perdeu cinco, seis, sete pontos consecutivos logo a seguir, isto num desporto em que quem ganha dois pontos seguidos no final é o vencedor. É preciso refletir, voltar a ver o jogo e ele ver as atitudes que teve para aprender com isso e seguir em frente”, concluiu o treinador.

Em jeito de balanço à passagem por Portugal, que para além de lhe proporcionar duas semanas competitivas “em casa” lhe deu um novo contacto com o ténis nacional, Frederico Marques deixou elogios a colegas de profissão e alguns jogadores: “Impressionaram-me dois ou três treinadores jovens que vi com vontade de aprender, ambição e motivados nos jogos, a dizerem coisas que a meu ver no futuro vão ajudar os jogadores deles. Gostei muito de ver isso.”

“Em termos de jogadores, o Frederico Silva já tinha feito uma boa pré-temporada connosco e espero que continue assim nos próximos torneios e depois entre com a máxima força no circuito Challenger. Também gostei de ver o Pedro Araújo, acho que pode vir a dar cartas, e os rapazes que estão nos EUA parecem-me ter regressado mais fortes e mais completos, já mais agressivos, a responderem melhor e por isso bastante mais competitivos e com outra mentalidade, para ganhar. Deram muitas cartas aqui e acho que devemos aprender com isso, ao ver como é que eles regressam de lá”, acrescentou, antes de deixar elogios à campeã da etapa do Lisboa Racket Centre.

“Também gostei muito de ver a Inês Murta e a forma como ela trabalhou. Na semana passada [em Vale do Lobo] não tive oportunidade de a ver tanto, mas o trabalho que fez com o Dany Sualehe é de parabenizar, independentemente de ganharem ou não. Gostei muito de os ver trabalhar, foram os dois muito profissionais”, concluiu Frederico Marques.

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