Cristian Garín chegou ao Oeiras Open 5 como o mais credenciado entre todo o elenco e agora que o torneio se aproxima do fim é um dos três estreantes entre os semifinalistas, todos com razões para sorrir na antecâmara de Roland-Garros e, por isso, visivelmente satisfeitos na hora de falarem pela primeira vez na sala de conferências de imprensa do Jamor — ainda que, aqui ou ali, tenham largado farpas em relação à badalada questão dos pontos.
“O ténis é um desporto muito duro. Se relaxas, cais no ranking e ninguém espera por ti. E se te lesionas e ficas para trás é muito difícil ganhar confiança, mas é isso que estou a tentar fazer e agora voltei a ganhar encontros. Este ano joguei três Challengers [ignorou o primeiro, uma derrota na primeira ronda] e fiz uma meia-final, título e agora outra meia-final, estou a jogar bem, mas vim de jogar os qualifyings de torneios ATP e aí é difícil somar [pontos]“, refletiu.
“Nos Challengers estou a ganhar encontros, mas acho que dão muito poucos pontos para o nível a que se está a jogar. Há Challengers que não estão tão duros e dão os mesmos pontos, mas neste torneio fiz uma meia-final e creio que só ganho 25 pontos. Não faz qualquer sentido, os encontros que se estão a jogar aqui são quase de nível ATP e depois, num Challenger 175, que tem quase o mesmo nível, as meias-finais dão logo 50 pontos. Não sei quem é o matemático que distribui os pontos, mas o nível está alto, os Challengers estão muito duros e hoje em dia há 200 ou 250 jogadores que jogam muito bem. Alguém tem de mudar os pontos, pelo menos nos torneios de nível alto têm de ser ajudados.”
O tenista de Santiago sabe do que fala, pois já fez parte dos 20 melhores do mundo (foi 17.º em setembro de 2021) e venceu cinco das seis finais ATP em que participou, incluindo a do ATP 500 do Rio de Janeiro em 2020.
E como ele também Mitchel Krueger, outro dos três jogadores que atuam pela primeira vez no Jamor, acabou por mencionar a distribuição que determina a hierarquia, ou não estivesse ele, aos 31 anos, à procura da estreia entre a elite: “Esse [top 100] é o objetivo há algum tempo e já estive à porta, mas é muito difícil de quebrar a barreira porque mesmo nesse ranking provavelmente precisas de vencer pelo menos mais dois ou três Challengers. É por isso que tenho tentado jogar torneios maiores.”
De certa forma, até Gastão Elias abordou o assunto durante a despedida ao Jamor, fazendo nova referência ao limbo que é decidir o calendário para um jogador próximo da barreira dos 300 melhores do mundo.
Mas porque pela mesa dos protagonistas passaram os quatro vencedores do dia, falou-se sobretudo de forma e boas sensações em jeito de lançamento às meias-finais de sexta-feira (a partir das 13 horas no Court Central).
Garín acabou com a representação portuguesa ao eliminar Gastão Elias num encontro “muito duro, sobretudo no segundo set“ e que se tornou mais complicado quando o português “subiu o nível e começou a ser mais agressivo e cometer menos erros.”
“Jogámos os dois a um ótimo nível no segundo set e estou contente por ter ganho assim, porque talvez ele merecesse vencer o segundo set, mas eu continuei a ser agressivo e no tie-break joguei muito bem, fui decidido e isso há uns torneios não estava a correr-me bem”, acrescentou o chileno de 28 anos, que está pela terceira vez na meia-final de um torneio em Portugal — foi finalista do Del Monte Lisboa Belém Open em 2018 e semifinalista do Millennium Estoril Open em 2024.
Campeão em Mauthausen há duas semanas e já com oito triunfos consecutivos, tenta transformar a primeira passagem pelo Jamor no 19.º título enquanto profissional — todos os anteriores ocorreram em terra batida e só uma das 24 finais não foi nesta superfície — e para encurtar esse objetivo terá de passar por Roman Burruchaga (135.º), o único que já tinha estado no Estádio Nacional e que há exatamente um ano também chegou às meias-finais deste torneio.
Filho de um campeão mundial de futebol, o argentino de 23 anos foi o único cabeça de série alcançar a penúltima fase e fê-lo graças a um braço de ferro de três sets contra o qualifier italiano Giulio Zeppieri (344.º) que o deixou “muito contente” por alcançar as terceiras meias-finais do ano — foi campeão em Piracicaba, no Brasil.
“Sinto-me muito confortável em Portugal, é um país lindo e as condições são parecidas às de Roland-Garros, por isso quis voltar. Estou a jogar bem, com confiança e espero voltar a ganhar amanhã para conseguir a desforra, mas sei que vai ser muito difícil porque ele é um ótimo jogador e está a encontrar novamente o nível dele”, rematou o menos falador dos semifinalistas.
Entre todos, o que tem causado mais sensação é Krueger, pois além de ter eliminado o cabeça de cartaz Thiago Monteiro logo a abrir também bateu, esta quinta-feira, Yibing Wu (448.º), talentoso chinês que jogou apenas o segundo torneio do ano por causa das várias lesões que o afastaram do 54.º lugar que chegou a ocupar em 2023, ano em que se tornou no primeiro homem do país a conquistar um título ATP ao vencer em Dallas, nos EUA.
A vitória inaugural foi crítica para o que se seguiu “sobretudo porque tínhamos jogado há umas semanas em Madrid e eu tive set points quando servi para o primeiro set.” E a campanha no Jamor chegou “no melhor timing possível” com o qualifying de Roland-Garros à porta, destino que admitiu ser “difícil” deixar fora do pensamento quando há tanto em jogo num torneio do Grand Slam, ainda para mais quando as últimas duas campanhas resultaram exatamente no apuramento que procura repetir em Paris.
Certo é já que chegará à cidade luz com o melhor resultado da temporada — e logo no piso que diz menos à maioria dos detentores de um passaporte dos EUA, ainda que para Krueger as dificuldades não sejam tão acentuadas: “Já estive em Portugal muitas vezes e sempre gostei, sempre foi um local onde me senti confortável e sem dúvida que isso ajuda. Além disso tive encontros equilibrados em Madrid e em Roma dos quais saí a pensar que podia facilmente ter ganho, por isso apesar de ter chegado aqui com algumas derrotas em terra batida estava a sentir-me confiante e estou feliz por ver que as peças finalmente se juntaram.“
“Sinto-me mais confortável em hard courts do que na terra batida e em geral isso nunca vai mudar para os americanos, mas sobretudo na Flórida há muitos courts [com a superfície] a nova geração cresceu a jogar mais vezes [nestas condições] e há cada vez mais jogadores a optarem por um calendário completo em vez de jogarem apenas dois torneios antes de Roland-Garros, por isso começamos a ver cada vez mais campanhas consistentes na terra batida“, elaborou ainda.
De olhos postos na nona final Challenger e primeira em exatamente um ano, o nativo de Dallas — que ainda pode sair de Portugal com a melhor classificação da carreira e mais próximo do que nunca de entrar na elite — discutirá essa vaga com Hady Habib.
Nascido no mesmo estado norte-americano (Texas), o libanês viveu em Beirut entre os seis e os 12 anos e foi lá que começou a jogar ténis, mas regressou aos EUA e até se licenciou em Gestão de Desporto na Texas A&M University antes de enveredar pelo profissionalismo de raqueta na mão — uma decisão que em 2024 fez dele o primeiro tenista libanês a competir nos Jogos Olímpicos e a vencer um título Challenger em singulares e já em 2025 o viu tornar-se no primeiro a apurar-se para o quadro principal de um torneio do Grand Slam.
Entre tantos feitos inéditos, sente-se a jogar “algum do meu melhor ténis” nesta fase em que se sente “melhor do que nunca” no pó de tijolo, sensação para a qual muito contribui o trabalho com o treinador Patricio Heras e o tempo passado na Argentina.
Com boas memórias de Portugal sobretudo pela campanha que só não resultou em título porque Jaime Faria anulou um match point na final do ITF M25 da Quinta do Lago em março de 2024, Habib também fez uma pequena declaração de amor: “Gosto muito deste país. É muito pacífico, as pessoas são muito relaxadas e amigáveis. Passei ótimas semanas no Algarve, mas desta vez ainda não tive muito tempo para aproveitar. Vejo os courts, o ginásio e o meu quarto de hotel, mas a vida de tenista é assim.”
Os dados estão lançados, as meias-finais jogam-se a partir das 13 horas. Certo é que, mesmo tratando-se do 20.º torneio Challenger (!) a acontecer no Estádio Nacional desde 2021, quaisquer que sejam os finalistas serão nomes inéditos no longo historial desta série de provas.