Uma “coincidência espetacular” fez João Maio ver Nuno Borges e Henrique Rocha a brilharem em Paris

Beatriz Ruivo/FPT

PARIS — No contexto tenístico, João Maio assistir de perto a vitórias históricas de Nuno Borges e Henrique Rocha é como um pai ver os filhos a brilhar. E foi isso mesmo que aconteceu nas últimas 48 horas em Paris, quando a poucos metros celebrou com eles os apuramentos inéditos para a terceira ronda de Roland-Garros. Tudo planeado? Nada disso, antes uma daquelas coincidências que desafiam a lógica.

“Vim a Paris através do Maia Jovem, que ganhou um prémio de melhor torneio da Tennis Europe. O prémio era uma viagem a Roland-Garros durante dois dias e calhou ser nos dois dias em que o Nuno ganha ao Casper Ruud e o Henrique recupera contra o Jakub Mensik. Foi excecional, é uma coincidência espetacular e melhor não poderia ser”, contou ao Raquetc, numa conversa descontraída entre os courts Suzanne-Lenglen e Philippe-Chatrier, com um enorme sorriso estampado no rosto.

O Diretor Técnico da Escola de Ténis da Maia é o “pai tenístico” de Borges e Rocha, dois produtos do ténis maiato que de lá saíram para o Centro de Alto Rendimento da Federação Portuguesa de Ténis (o mais velho estudou quatro anos nos EUA, mas durante esse período manteve sempre a ligação à base no Norte do país).

Por isso, foi “um sonho” ver ao vivo história a ser feita.

“Nós, portugueses, estávamos pouco habituados a ter jogadores aqui. Quando tínhamos, passávamos uma ou duas rondas, mas depois o João Sousa começou a passar mais. Agora ter dois jogadores a passarem duas rondas e ainda para mais terem trabalhado os dois comigo, ou seja, eu ter contribuído para que isto acontecesse… naturalmente é o sonho de qualquer treinador, não é? É um sonho Portugal e isto é um enorme prazer”, acrescentou.

E não faltaram elogios ao CAR, o projeto que acolheu de braços abertos Henrique Rocha há cerca de seis anos e Nuno Borges há sensivelmente quatro: “Estão a trabalhar muito bem com eles. O facto de lhes arranjarem quase um treinador individual e haver dinheiro para fazer isso foi o grande salto que se deu em Portugal. No passado fazíamos trabalhos razoáveis, eu próprio trabalhei na federação e acho que trabalhámos bem, mas nunca tivemos esta capacidade financeira para pôr os miúdos a jogar tantos torneios e sempre acompanhados. Isto está a fazer toda a diferença.”

“Muito impressionado” com as duas vitórias, João Maio ainda fez uma análise mais detalhada ao que mais o impressionou em cada um dos ex-pupilos.

“Aquilo que eu mais gostei de ver no Nuno foi que, depois de o sentir extremamente cansado no primeiro set, como é habitual nele estando mais quente começou a atirar-se mais para o jogo e quando ganhou o segundo set senti que não ia largar aquilo. Conheço-o, sei que quando vê a oportunidade de conseguir alguma coisa não larga e o outro precisava de ser realmente muito melhor para ganhar. Isso não aconteceu, o que aconteceu foi que agravou uma lesão e o rendimento começou a baixar, enquanto o Nuno pressionou cada vez mais e obrigou-o a correr mais. Inclusive o Ruud começou a ficar destabilizado ao nível mental, o que não é fácil acontecer, e aí vi que provavelmente ganharia”, disse acerca da vitória de quarta-feira — a primeira de um homem português frente a adversários do top 10 em torneios do Grand Slam.

Já em relação à desta quinta-feira, o treinador sentiu o mais novo dos portugueses “a respeitar demasiado o adversário no início e provavelmente até a nem acreditar muito. No terceiro set percebeu que tinha de jogar, começou a jogar e as coisas começaram a sair e a correr bem. Soltou-se e tem muito ténis. Para mim, ainda tem muito mais ténis do que está a fazer. Nos últimos tempos tem começado a utilizar coisas que não tem utilizado nos últimos anos, mas que ele tem e que são fundamentais, que são o primeiro serviço, a capacidade de jogar dentro do campo, de fazer amorties e variar o jogo. Não estar a jogar a três quartos do campo, mas no meio, porque ele também tem uma excelente esquerda e nos últimos anos andou a jogar muito do lado esquerdo para fugir e jogar sobretudo com a direita. Mas ele não é um jogador que só tenha uma direita, tem um excelente serviço, uma excelente esquerda, um excelente toque e isso ainda não apareceu. Quando começar a aparecer, vão ver que o Henrique é outro jogador.”

A viagem era de dois dias, mas entretanto os planos mudaram: “Os pais deles ligaram-me e já lhes disse que não me vou embora enquanto estiverem a jogar!”

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