PORTO — A frontalidade de Francisca Jorge distingue-se do calculismo de Matilde Jorge e faz da irmã mais velha a mais vocal em relação às aspirações de viajar para Nova Iorque e disputar o qualifying do US Open, mesmo que o apuramento ainda esteja a vários pontos de distância e o tempo para o assegurar seja cada vez mais escasso.
O Eupago Porto Open desta semana era uma das últimas duas oportunidades para o fazer, a derrota para Tereza Valentova adiou a missão até à Figueira da Foz e nem por isso a lucidez se desfez, com a número um nacional (240.ª WTA, sensivelmente duas dezenas de lugares abaixo da classificação que precisa de alcançar) a afirmar que tem “objetivos para cumprir” no imediato.
“A pressão existe, mas há que aceitá-la e acho que já o fiz bem. Tanto que tenho vindo a jogar bastante bem, sabia que tinha de fazer bons resultados para me aproximar do ranking“, reconheceu. Só que pelo meio o corpo traiu-a, o termómetro confirmou a febre e a preparação para a viagem à invicta foi afetada, isto antes de esbarrar numa adversária que “se continuar a jogar assim vai [acabar por] ganhar à Sabalenka, como eu lhe disse à rede.”
Entre os muitos elogios à checa que ainda tem idade de júnior (venceu Roland-Garros sub 18 em 2024) e já está às portas do top 100 profissional, Francisca Jorge também deixou no ar algumas dúvidas em relação à réplica que podia dar “se não estivesse débil”, mas virou a página e, com as mãos juntas e a olhar para cima, desabafou: “Às vezes as coisas acontecem por um motivo e eu espero que haja um anjinho lá em cima que me fez mal nestas duas semanas, mas que me ajude na próxima.”
Com ou sem ajuda divina, a número um nacional deixou claro que independentemente do que aconteça a curto prazo “o mundo não acaba” e “está tudo bem”, especialmente agora que se sente “motivada” depois de um início de época “muito fraco” contrariado pelo trabalho bem feito dos últimos meses. Os resultados comprovam-no: foi vice-campeã do ITF W50 de Montemor-o-Novo, na semana seguinte vingou a derrota para a irmã e defendeu o título em Guimarães, alcançou mais umas meias-finais em Palma del Río e na semana passada entrou com o pé direito em Corroios antes da febre a deixar “muito em baixo”.
Com Nova Iorque na cabeça, mas sem fazer da viagem transatlântica uma questão de vida ou de morte, ainda tentará atacar o título de pares ao lado da irmã (são bicampeãs do WTA 125 do Jamor) antes de iniciar a derradeira investida junto ao forte da Figueira da Foz.