PORTO – Recém-licenciado, ou perto disso, em gestão na University of Texas at San Antonio, Tiago Torres está centrado no profissionalismo e a viver no Complexo Desportivo do Monte Aventino o melhor momento da carreira. Dias depois de atingir pela segunda vez uns quartos de final em provas ITF M25, o lisboeta de 23 anos superou uma fase prévia de um torneio do ATP Challenger Tour para se estrear num quadro principal da categoria. Ainda que tenha outros assuntos pendentes.
A formação está praticamente concluída, o canudo há-de chegar, só que há “quatro aulas online nas próximas duas semanas” para a fase americana ficar definitivamente para trás das costas. Aulas às quartas e sextas da uma às duas da manhã, hora portuguesa. Na semana anterior, antes de ultrapassar o amigo Vasco Prata na segunda eliminatória, num embate agendado para as 12 horas, marcou presença numa dessas aulas, mas foi apenas “meter o visto”, contou na conferência de imprensa após a ronda inaugural da fase de qualificação.
O problema, salvo seja, pode repetir-se uma semana depois. Apurado para o quadro principal do ATP Challenger Eupago Porto Open, Torres está à distância do maior escalpe do palmarés, diante do italiano Francesco Maestrelli, sexto pré-designado e 178 ATP, para precisar de uma desculpa para faltar à aula. “Se por acaso ganhar amanhã vai um e-mail para a professora (risos)”.
Apesar do canudo, Tiago Torres sabe que “daria em doido num escritório”, pelo que a opção pelo profissionalismo surge tanto por amor como por necessidade. “Não é que faça muito bem ténis, mas não faço nada ao nível do ténis”, explicou, sempre meio a brincar meio a sério, típico de todas as suas resenhas bem-dispostas e faladoras.
Para já, recebe ajuda preciosa dos pais para manter o sonho vivo e o progenitor tem sido um acompanhante fulcral neste furar da fase prévia. À terceira foi de vez num compromisso deste género – aprendeu a lição do Indoor Oeiras Open deste ano, onde apareceu na ronda de acesso completamente desgastado por ter ido caminhar para uma montanha dias antes – e o tenista luso conseguir juntar-se a outros seis compatriotas na prova maior.
“Ainda não digeri, foi agarrado a ferros. Estava bastante nervoso, sobretudo quando servi para ganhar. Nunca é fácil, ainda por mais a começar com dupla falta. Mas estava a dizer para mim mesmo ‘tu não és assim, nunca foste, tens de ter coragem’. Consegui dar a volta, servir bem, não sei muito bem o que dizer. Estou bastante contente, dá para ver”, sulinhou no rescaldo ao triunfo sobre o italiano Luca Potenza, que o tinha batido há três dias no ITF M25. “A vingança é um prato que se serve frio”, brincou.
A maior bravura e o carácter foram chave para a desforra e para o marco singular. “Em termos de ranking é provavelmente o dia mais importante da minha carreira. Espero chegar a muitos quartos de final, mas sei perfeitamente que o meu nível não é de Challenger. Se formos a ver pelo ranking o meu nível é até de qualifying de (ITF M)15 ou (ITF M)25“.
O duelo frente a Maestrelli será o terceiro do court McDonalds, campo com início às 11 horas. “O mundo está cheio de vencedores no papel”, avisou.