OEIRAS – 152.ª do ranking WTA a 9 de junho de 1997 e nove vezes consecutivas Campeã Nacional Absoluta entre 1990 e 1998, Sofia Prazeres figura na história do ténis português como uma das melhores de sempre. Ainda hoje detém a quinta melhor cotação internacional de sempre entre as mulheres lusas e muitos que privaram de perto com a sua carreira colocam-na num patamar até superior, no panteão do que podia ter sido e não foi. Mais de 20 anos depois do fim abrupto, voltou para desfrutar do jogo sem olhar a meios.
Corria o ano de 2020 e 22 primaveras após do eneacampeonato que colocou um ponto final da carreira profissional aos 24 anos, a portuense então perto dos 50 ingressou ao circuito nacional e internacional de veteranos. Sem surpresa, com sucesso condizente: às duas medalhas de bronze em mundiais (2023 e 2024), Prazeres alcançou recentemente o segundo posto na hierarquia das +50 e quer mais, sem loucuras.
“Estou cá sempre para ganhar, mas jogo porque gosto de me manter bem fisicamente e mentalmente. Não vou tornar-me profissional outra vez, garanto. Já dei para esse peditório (risos)“, dizia numas das primeiras conversas da segunda semana do Campeonato do Mundo de Veteranos, a competição individual.
A ideia para a prova era clara: superar as medalhas de bronze, mas não com a seguinte na escala. A ideia era mesmo ganhar o ouro. Não foi possível, primeiro devido a uma adversária de “anti-jogo” – muitas bolas devolvidas, a maioria até em forma de balão -, depois face a um incómodo nas costas que a fez abdicar do compromisso dos quartos de final. “Nesta fase da minha vida o importante é desfrutar do ténis, não é andar em sofrimento. Não fico triste por perder. Nesta fase encaro o ténis como prazer e este encontro não me estava a dar prazer nenhum. Há mais torneios para jogar”.
O prazer, fazendo jus ao apelido, é mesmo a palavra-chave para Sofia Prazeres. Nada a faz colocar de parte a alegria de competir num campo de ténis e o novo “mindset” põe tudo o resto para segundo plano, mesmo que haja objetivos para alcançar nesta espécie de segunda carreira. E a própria sabe que caminha sozinha, ou perto disso, neste pensamento, diametralmente oposto aos vários amigos e colegas das várias seleções nacionais e às maiores adversárias dentro dos courts – muitas até acordam de madrugada para manter a condição física e fazem todos os possíveis para celebrarem numa idade propensa ao desfrutamento.
“Estas jogadoras nunca tiveram um passado e por isso vêm para cá como se isto fosse a última Coca-Cola do deserto. Eu venho para me divertir e quando sinto que não me estou a divertir prefiro não jogar, sobretudo quando tenho dores. Já tive outra carreira, o que levo agora da vida é a diversão”, sublinha, sem qualquer tipo de remorsos por deixar escapar o ambicionado primeiro lugar. “Não se justifica jogar até ao fim e depois poder estar dois meses a recuperar. Nestas idades há que dizer ‘chega, vamos parar’. Não é o fim do mundo”.
Por isso, a melhor forma física de sempre como veterana e as duas metas não desfocam do essencial. “Estou aqui para ganhar o ouro e ser número um, mas com prazer”.