PORTO — Tiago Cação regressou à competição mais de três anos depois e foi rápido a colher os frutos da aposta no relançamento da carreira de tenista, agora com outra abordagem. Natural de Peniche, foi em Idanha-a-Nova que voltou a pontuar e já no Porto transbordou leveza na hora de explicar esta “segunda versão” que o faz encarar um caminho longo recheado de motivação.
“Comecei a pensar no regresso seis meses depois de parar. Gosto imenso de competir e como toda a gente sabe o ténis não é um desporto nada fácil, tens de aguentar a pressão e muitas vezes fazer tudo isso sozinho. Gerir essas emoções não estava a ser saudável para mim, não estava a ter prazer e quando uma pessoa não sente prazer o melhor é dar um passo atrás e tentar encontrar a felicidade. Tentei acalmar um bocado a vida, não viajar tanto, não ter tanta pressão porque tinha de estar sempre muito acelerado para encontrar energia e motivação em cada encontro. Isso estava a desgastar-me muito”, explicou, como um livro aberto, depois da vitória na primeira ronda do qualifying da CT Porto Cup.
“Mantive-me sempre a jogar interclubes no Luxemburgo, na Alemanha, na Bélgica e em França, portanto de abril a julho jogava bastante, praticamente todos os fins de semana. Estava basicamente a viver a minha vida para isso, mas comecei a pensar que não valia a pena viver assim, então decidi voltar enquanto o físico ainda me permitia. Senti que era agora ou nunca e estou aqui de novo”, acrescentou.
O apuramento para o quadro principal deste que foi o primeiro torneio Challenger em que participou desde junho de 2022 acabou por não se concretizar, mas o ex-top 400 ATP sabe que há um caminho a percorrer antes de voltar a pertencer a este patamar e não voltou iludido.
“Estava perfeitamente preparado para chegar lá e perder na primeira ronda. Ainda me estou a descobrir e a ver em que patamar é que estou porque estive três anos sem jogar a este nível. Não tinha nenhum ponto, por isso o meu único objetivo era conseguir um ponto para começar a ser capaz de definir o meu calendário.”
Essa meta foi alcançada logo na primeira semana, ao ultrapassar a primeira ronda do qualifying depois de furar o qualifying, e na seguinte chegou mesmo às meias-finais, pelo que de Idanha-a-Nova saiu logo com nove pontos aos quais, este domingo, juntou mais dois que o deixarão próximo do top 1000 na atualização do ranking logo a seguir ao US Open.
Uma ascensão rápida que reabre portas a quem voltou a ter “os olhos completamente postos na carreira de jogador” e adiou “para mais tarde a de treinador”, um dos caminhos que descobriu e que o ajudam a encarar esta nova fase com uma tranquilidade que até aqui desconhecia: “Estou mais relaxado. Agora estou a jogar porque é uma decisão minha, porque quero estar aqui. E sei que se não estiver também não há problema. Acho que às vezes é isso, os jogadores têm mais dificuldades em encontrar-se porque não é fácil ver um caminho fora do ténis. Ninguém sabe o valor que tem ou se gosta disto ou daquilo. Agora eu sei que consigo ser outra pessoa fora do ténis, que consigo gerar riqueza. Sei o que gosto de fazer se não for jogador de ténis, portanto estou muito mais tranquilo. Se me fartar vou ser treinador de ténis ou apanhar castanha, não interessa, mas sei que tenho essa escolha, que sou livre de a fazer e que consigo ser bem-sucedido na vida.”
Com os pés no chão, o regresso também inclui, naturalmente, objetivos. O principal é “bater o que fiz e a partir daí logo se vai vendo”, mas “jogar os torneios do Grand Slam” pela primeira vez faz parte dessa lista. Mesmo se “o caminho é tão longo que ainda agora começou e não posso estar já a pensar nisso, por isso estou só a tentar desfrutar do que faço e a tentar ganhar pontos.”
11 já estão e até ao próximo verão será sempre a somar. O caminho é longo e há muito a desfrutar.