Shapovalov cumpre indesejado papel de vilão e afasta Murray de Wimbledon

Denis Shapovalov cumpriu as expetativas e derrotou Andy Murray por 6-4, 6-2 e 6-2 para chegar pela primeira vez aos oitavos de final no All England Club, mas conteve-se a celebrar uma vitória com sabor agridoce mesmo para o próprio autor e permitiu ao herói da casa a saída digna de quem desafiou as probabilidades e regressou ao desporto com uma anca de metal.

Nascido em Israel e residente nas Bahamas, o canadiano (cujo apelido tem como sílaba tónica “va”) liderou por 5-1 em todos os parciais e foi quase sempre o tenista com o controlo dos acontecimentos na raquete, mas permitiu ao britânico — e a praticamente toda a audiência — sonhar ao desperdiçar a vantagem na primeira partida, antes de salvar três pontos de break ao 5-4 para recuperar o conforto no marcador.

Doze anos mais velho e destinado a grandes feitos, Shapovalov demonstrou, em pleno Centre Court de Wimbledon, o ténis que faz dele um dos grandes candidatos a conquistar muitos títulos nos próximos anos e depois da falta de concentração no primeiro set não voltou a tropeçar, pelo que o espetáculo acabou por ser relativamente curto (2h36 influenciadas pela pausa de alguns minutos para que se fechasse a cobertura) e desequilibrado, muito por culta dos 45 winners que apontou — 13 com o serviço.

O triunfo no palco mais sagrado da ocasião garantiu ao canadiano de 22 anos o primeiro apuramento da carreira para a quarta ronda/oitavos de final de Wimbledon, mas a celebração foi contida. Tudo porque Shapovalov revelou muita consciência e permitiu ao público britânico a merecida standing ovation (ovação de pé) ao seu herói.

Andy Murray, que sentiu no corpo o esforço de anos a fio e chegou a anunciar o final da carreira em janeiro de 2019, contrariou as probabilidades e os conselhos de especialistas e regressou ao circuito mundial depois de várias operações e uma anca metálica e este ano disputou o quadro de singulares de Wimbledon pela primeira vez desde 2017. Não só o fez como na primeira ronda carimbou uma convincente vitória sobre Nikoloz Basilashvili (28.º) e na segunda sobreviveu de forma heróica a Oscar Otte (151.º), triunfos que lhe permitiram matar saudades do carinho do seu público e reviver algumas das sensações que experienciou nos seus anos de glória, com os títulos de 2013 e 2016 em destaque.

“Na rede disse-lhe que é o meu herói”, revelou Shapovalov na entrevista que se seguiu à ovação a Murray, sendo imediatamente interrompido por mais uma ovação do público, mas desta vez ao seu reconhecimento. “O que ele tem sido capaz de fazer ao voltar de uma lesão como esta e jogar como tem jogado é incrível e inédito.”

Na quarta ronda, o número 12 mundial terá como adversário o espanhol Roberto Bautista Agut (10.º, que superou Dominik Koepfer por 7-5, 6-1 e 7-6[4]) e aí sim, voltará a ter caminho aberto para celebrar efusivamente — provavelmente com muito apoio do público que hoje conquistou — caso consiga superar mais um difícil obstáculo.

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