Ténis português nos Jogos Olímpicos: Rodrigo de Castro Pereira foi o pioneiro, Pedro Sousa o mais recente a cumprir o sonho

De quatro em quatro anos os Jogos Olímpicos reúnem as atenções dos quatro cantos do globo. São a prova desportiva que mais atletas reúne, a que mais história tem e, na maioria dos casos, também a que dá mais prestígio. No ténis a história é ligeiramente diferente, mas desde 1988 o desporto tem recuperado o seu estatuto olímpico.

Para o ténis português, a história em Jogos Olímpicos começou em Paris 1924, há quase 100 anos. Um ano antes da fundação da então Federação Portuguesa de Lawn-Tennis, António Casanovas e Rodrigo Castro Pereira solicitaram ao Comité Olímpico de Portugal as suas inscrições. O primeiro acabou por não participar, devido a um problema de saúde, mas o segundo fez a viagem e tornou-se no primeiro tenista olímpico português, perdendo com o argentino Arturo Hortal — 6-1, 6-4 e 6-2 — na primeira ronda.

À estreia de Rodrigo Castro Pereira em 1924 seguiu-se um longo interregno do ténis como desporto olímpico devido a desentendimentos entre a Federação Internacional de Ténis e o Comité Olímpico Internacional. Só em 1988 é que se voltaram a fazer serviços olímpicos e nesse ano Marco Seruca tentou o apuramento, mas perdeu na qualificação que se realizou em Budapeste, na Hungria.

Foi em 1992 que o ténis português regressou aos Jogos Olímpicos, com Bernardo Mota (196.º ATP) a ser repescado como lucky loser após perder na qualificação de Lillehammer, na Noruega (onde também jogaram Emanuel Couto e Vasco Gonçalves).

A estreia de Bernardo Mota aconteceu com poupa e circunstância, com o tenista português a enfrentar logo na primeira ronda o croata Goran Ivanisevic (que três semanas antes chegara à final de Wimbledon e ocupava o quarto lugar do ranking) e a oferecer resistência ao longo de cinco sets, até que o resultado final de 6-2, 6-2, 6-7[5], 4-6 e 6-3, sorriu ao atual treinador de Novak Djokovic.

Nesse mesmo ano, Bernardo Mota e Emanuel Couto furaram a qualificação e tornaram-se nos primeiros portugueses a ir a jogo em pares, em que perderam por 6-1, 6-3 e 6-1 para os franceses Guy Forget e Henri Leconte, campeões da Taça Davis.

Curiosamente, a qualificação para o quadro feminino dos Jogos Olímpicos de 1992 aconteceu em Lisboa e foi nesse ano que Portugal esteve mais perto de contar com representação, mas Sofia Prazeres foi a única a passar uma ronda, enquanto Tânia Couto e Inês Drummond perderam logo nos singulares e Joana Pedroso em pares, ao lado de Sofia Prazeres.

Quatro anos depois, em Atlanta 1996, Bernardo Mota e Emanuel Couto repetiram a presença nos pares e foram novamente derrotados por dois especialistas, Mark Knowles e Roger Smith, com os parciais de 7-6[6] e 7-6[4].

No ciclo seguinte, em 2000, Bernardo Mota viajou até Sydney e tornou-se no primeiro português a participar em três Jogos Olímpicos, desta vez ao lado do estreante Nuno Marques, com quem ficou muito perto da primeira vitória lusa: Mark Knowles e Mark Merklein só venceram por equilibrados 6-7[7], 6-4 e 7-5.

Depois, seguiram-se 16 anos de ausência até que no Rio de Janeiro de 2016 se fez história: João Sousa (36.º) e Gastão Elias (64.º) garantiram, pela primeira vez, a participação de dois portugueses em singulares e foram um passo mais longe ao assinarem as primeiras vitórias: esse feito coube a Elias, que derrotou Thanasi Kokkinakis por 7-6[4] e 7-6[3] (depois perdeu com Steve Johnson por 6-3 e 6-4) um dia antes de Sousa repetir a proeza ao superar Robin Haase por 6-1 e 7-5 antes de cair perante o futuro medalha de prata, Juan Martin del Potro, por 6-3, 1-6 e 6-3.

Em Tóquio 2020, o adiamento de um ano colocou em risco a presença de tenistas portugueses, mas o tempo fez justiça aos feitos de Pedro Sousa (que desde que celebrou 30 anos celebrou vários feitos históricos e no Japão se tornará no sétimo tenista olímpico de Portugal) e João Sousa (que praticamente garantira a participação em 2020 ao chegar à quarta ronda de Wimbledon no ano anterior, antes da pandemia interromper o circuito e baralhar as contas do ranking e do apuramento) e Portugal voltará a estar representado por dois jogadores, que para além dos singulares vão unir esforços nos pares.

Os Jogos Olímpicos de ténis acontecem entre os dias 24 de julho e 1 de agosto e o sorteio dos quadros está marcado para a próxima quinta-feira, 22 de julho.

O apuramento

Com quadros de 64 jogadores, os Jogos Olímpicos têm várias restrições de qualificação: cada país pode fazer-se representar por, no máximo, quatro jogadores em singulares e mais dois em pares, sendo que para além do ranking é necessário que os tenistas cumpram um mínimo de presenças na Taça Davis e na Fed Cup e tenham boas relações com a respetiva federação. Das 64 vagas, 56 são destinadas à entrada direta de acordo com o ranking (neste caso, da semana a seguir a Roland-Garros) e os critérios referidos em cima, com as restantes a estarem reservadas a vencedores de competições continentais (casos da Ásia e da América do Sul), a países sem representação, a um jogador “da casa” e ainda a um ex-campeão de um torneio do Grand Slam ou medalhado de ouro que não tenha conseguido garantir a qualificação por ranking.

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