Meshkatolzahra Safi começou a jogar por causa de Nadal, contrariou o que diziam ser impossível e fez história para o Irão

Um encontro de Rafael Nadal transmitido na televisão fez com que Meshkatolzahra Safi se interessasse pelo ténis e a ajuda dos pais levou-a experimentar a modalidade. Daí para cá, seguiu-se a luta pela prática de um desporto pouco ou nada popular no Irão, que “perdeu” a sua primeira e única estrela para a França, mas que este domingo voltou a ter motivos para celebrar ao ver a jovem de 17 anos carimbar a primeira vitória da história do país em quadros de juniores de torneios do Grand Slam.

O histórico triunfo no Australian Open foi carimbado com os parciais de 6-4 e 6-3 em sensivelmente 90 minutos frente à qualifier australiana Anja Nayar.

Mas para chegar a Melbourne Park, Safi teve de atravessar um mar de críticas e dúvidas. “Quando comecei o meu percurso no Irão todos me diziam que era impossível, que jogar torneios do Grand Slam era impossível. E diziam-no sobretudo à minha mãe, por isso deixei de partilhar o meu sonho“, explicou a Reem Abulleil, jornalista especializada em acompanhar o desporto no mundo árabe e muçulmano, através do jornal The National, dos Emirados Árabes Unidos.

Sonho esse que começou graças ao zapping. “No Irão o futebol é o desporto de que toda a gente gosta. Lembro-me do dia em que estava a ver televisão com a minha mãe e estava a dar um encontro do Rafael Nadal. Ficámos muito curiosas em relação à existência de courts de ténis no Irão para podermos experimentar.”

A falta de parceiros de treino e patrocinadores na capital, Teerão (treina na academia Optigenpro), e sobretudo a “enorme dificuldade em conseguir vistos” para viajar e disputar torneios são obstáculos desde os primeiros anos da carreira. No entanto, 2021 foi um ano que sorriu a Safi, com a conquista de seis títulos ITF e a inédita entrada no top 100 do ranking mundial de sub 18.

Agora, também já tem história garantida nos torneios do Grand Slam. E espera tornar-se na primeira grande referência de um país parco em tradição no ténis, que durante vários anos centrou esperanças em Aravane Rezaï. Natural de Saint-Étienne e filha de pais iranianos, a francesa optou por representar o Irão entre 2001 e 2005 e ainda registou uma vitória em torneios do Grand Slam (curiosamente em Paris, na edição de 2005 de Roland-Garros), mas foi com a bandeira francesa nos ombros que celebrou a maioria dos feitos da carreira — incluindo a chegada ao top 15 mundial e a conquista do WTA Premier de Madrid, em 2010, com uma vitória sobre Venus Williams (uma das sete finais que disputou no circuito feminino).

O que o futuro lhe reserva só o tempo o dirá, mas por agora Meshkatolzahra Safi já tem razões para sair satisfeita da primeira viagem até à Austrália: para além da primeira vitória em torneios do Grand Slam também conseguiu uma fotografia com Rafael Nadal, um dos seus dois ídolos — o outro é o português Cristiano Ronaldo, “pela inspiração para ultrapassar os momentos mais difíceis.”

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