Stoliar dividido entre a alegria de ir a jogo num Challenger e a guerra na Ucrânia: “Recebi familiares em casa, estamos a tentar ajudar”

Sara Falcão/FPT

Illia Stoliar nasceu na Ucrânia, viajou para Portugal com nove anos e apesar de ter pegado pela primeira vez numa raqueta algo tarde mantém o sonho de ser profissional — meta que descreve como “conseguir viver e fazer a vida a jogar ténis”. Este domingo deu mais um passo em direção a esse objetivo ao estrear-se em torneios do ATP Challenger Tour, um convite que admitiu tê-lo apanhado de surpresa. Apesar do desaire na primeira ronda do qualifying do Oeiras Open 1, o tenista luso-ucraniano fez um balanço positivo do acontecimento e aproveitou para falar sobre a Guerra na Ucrânia.

“Acabei de jogar cinco semanas no Algarve e não ia participar em nenhum torneio esta semana. Não estava mesmo à espera de entrar aqui, aliás, é uma história muito engraçada: ontem fui treinar à hora de almoço, em piso rápido, e quando acabei o treino cheguei a casa e dormi uma sesta. Estava a dormir quando recebi uma chamada de um número que não tinha gravado, mas desliguei e voltei a dormir. Passado um bocado voltaram a ligar-me, eu atendi e era a Neuza Silva, que me perguntou se eu aceitava um wild card para jogar o Challenger”, contou, entre sorrisos, o jogador do AHEAD Clube de Ténis.

“Foi mesmo uma experiência incrível. Isto é outro nível e é um bom estímulo para tentar chegar cá, porque é uma diferença abismal em relação aos torneios ITF. Ainda por cima este Oeiras Open, que é super bem organizado”, acrescentou Stoliar depois de perder por 6-1 e 6-1 com Francesco Forti num encontro que considerou que “deixou a desejar” e que assinalou o seu regresso (repentino) à terra batida pela primeira vez em três meses.

Apanhado de surpresa, o tenista de 2,07 metros (!) — que sem surpresas tem como referências os norte-americanos John Isner e Reilly Opelka, com quem tenta aprender sempre que possível através de vídeos no YouTube — quer continuar a aproveitar a oportunidade. Apesar de ainda não ter garantias de participar no segundo Oeiras Open, vai permanecer no Complexo Desportivo do Jamor para “treinar com estes jogadores e aprender com eles, porque já por si é uma experiência incrível.”

Natural de Kherson, no Sul da Ucrânia, Illia Stoliar também foi questionado sobre a invasão da Rússia ao seu país e a forma como tem lidado com a situação. “Agradeço essa pergunta, porque quanto mais pessoas falarem deste assunto, mais tempo as atenções se mantêm sobre o que se passa lá. Eu nasci na Ucrânia, vim para Portugal com nove anos, naturalizei-me português e já não vou à Ucrânia há muito tempo, mas continuo a ter muita família lá, como qualquer português que de repente saia de cá vai continuar a ter família em Portugal.”

“Estava nos torneios do Algarve quando recebi a notícia e inicialmente custou-me a acreditar porque quando saí da Ucrânia a relação entre os ucranianos e os russos era amigável. Passaram-me muitas coisas pela cabeça e tentei perceber como é que podia ajudar as pessoas que estão lá. Falei muito com a minha família, uma parte conseguiu sair, outra ficou lá e neste momento temos em nossa casa quatro pessoas da minha família que conseguiram sair e estamos a ajudá-los.”

Lamentando a “situação muito difícil e muito feia” que se desenrola há mais de um mês e com a esperança de que se resolva o mais rápido possível, Stoliar admitiu que “no início foi muito difícil porque estava sempre a pensar nisto, sempre que podia ia ao telefone ver notícias, agora já consigo focar-me nos treinos e no meu dia-a-dia com mais facilidade.”

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