Francisco Cabral em entrevista: “Ganhar o Millennium Estoril Open era um sonho e ninguém pensa que um sonho se concretiza na primeira tentativa”

Millennium Estoril Open

É o número um português no ranking mundial de pares e este domingo cumpriu um sonho: aos 25 anos, Francisco Cabral sagrou-se campeão do Millennium Estoril Open ao lado de um amigo de infância, Nuno Borges, e deu um passo de gigante para chegar aos torneios do Grand Slam. Numa grande entrevista ao Raquetc, o portuense abordou a especialização na variante, falou das lágrimas após conquistar o título e também do que pretende alcançar.


Passaram sensivelmente dois dias desde a vitória no Millennium Estoril Open. Já assentou?

Muito sinceramente ainda não assentou a 100%. As mensagens continuam, as menções nas histórias do Instagram continuam, hoje de manhã [terça-feira] enviaram-me as capas dos jornais e ainda mexe muito comigo, mas espero que dê para assentar o mais rápido possível, porque há muitos mais torneios para jogar.

E recebeste muitas mensagens?

Sim, sim, recebi muitas mensagens de parabéns, muitas menções nas histórias e nas partilhas do torneio, etc. Muitas de pessoas que não conheço ou de pessoas com que já não tinha uma grande relação, mas que se lembraram e me vão mandando os parabéns, e também de amigos muito próximos. Todas as mensagens são bem-vindas e leio todas com muito carinho [risos].

Foi a vez em que recebeste mais mensagens?

Sim, de longe. Ainda tenho muitas notificações por ler tanto no Instagram como no WhatsApp. Ainda não respondi a todas, mas entre o final do dia do jogo e ontem, durante a viagem, já respondi a muitas.

Qual é que foi o teu momento de realização, aquele em que paraste e pensaste “Sou o Francisco Cabral e sou campeão de pares de um ATP 250”?

O momento em que me caiu tudo foi quando me sentei no banco depois do jogo e comecei a chorar. Foi aí que percebi que tínhamos acabado de ganhar. Pus a toalha na cabeça e…

E durante o jogo houve algum momento em que tiveste essa sensação ou conseguiste aguentar?

Para ser sincero não me senti muito nervoso antes do jogo. O momento em que senti mais nervos foi na noite antes do jogo, custou-me a adormecer e acordei duas ou três vezes. Mas depois, durante o dia, no aquecimento para a final e nos momentos antes do jogo acho que foi a minha ronda mais tranquila, porque estava confiante. Sentia-nos a jogar bem, sentia que o público ia estar a nosso favor e que as condições eram boas para nós, por isso só queria ir lá para dentro e fazer um bom jogo. Felizmente conseguimos uma excelente vitória e o título.

Quando conseguiram a primeira vitória disseste que a estreia vitoriosa na Taça Davis ainda era mais importante que a primeira vitória ATP, mas e o título?

Sem dúvida alguma. Uma vitória num torneio ATP não superava a Taça Davis, mas ganhar o torneio, que é o maior torneio de ténis em Portugal… Ganhar o Millennium Estoril Open é o sonho de qualquer português, por isso sim, sem dúvida que está noutro patamar.

Não sei se te apercebeste, mas quando entras em court os teus pais e o teu irmão estavam logo ali, nos primeiros camarotes. Sabias isso, reparas, tentas não reparar, como é que lidas?

Sabia, porque o meu pai trabalha na Porsche e durante a semana já tinha estado lá no camarote a ver o torneio. Sabia que para a final ele tinha conseguido bilhetes para os três.

E foste olhando ou tentaste abstrair-te?

Quando estou a jogar evito fazer contacto visual com muitas pessoas, porque depois posso distrair-me. Tentei fazer mais contacto com o Rui [Machado], o Hugo [Anão], o Paulo [Figueiredo], André [Santos], mais a parte da equipa técnica, porque sinto que durante o jogo são as pessoas que têm mais capacidade para me ajudar e que realmente percebem mais do jogo, portanto tento que o meu foco seja no mínimo de pessoas possíveis. Claro que se olhar para os meus pais eles não me vão distrair, mas para me ajudarem em campo eram aqueles quatro.

E a nível de qualidade de jogo, como é que classificas a final face aos outros encontros?

Não sei, não sei, acho que fizemos um grande jogo. Tem sido uma constante eu e o Nuno fazermos grandes jogos, temos vindo a jogar muito bem, por isso não sei dizer se este foi melhor que o da meia-final, porque o estilo de jogo dos adversários também influencia muito a nossa performance. E acho que para a final estávamos muito preparados tendo em conta os adversários que enfrentámos nas semanas anteriores.

Lembro-me de que em 2018 o Frederico Marques nos disse que depois de o João Sousa ter ganho ao Tsitsipas, nas meias-finais, sentiu que era difícil o título escapar-lhe. Vocês tiveram algum momento desses no torneio?

Não. Muito sinceramente quando eu senti que podíamos sonhar alto foi depois da primeira ronda, porque depois de todas foi aquela em que tivemos mais dificuldades. Não sei se foi por ser o primeiro encontro, mas falando sobre esse encontro acho que servimos muito bem no primeiro set. Se calhar tivemos um bocadinho de sorte, porque o Dodig começou mal o encontro e deu-nos logo o break com duas duplas-faltas e um erro fácil. Depois no segundo set estivemos um break acima, mas eles viraram o jogo e o facto de no dia seguinte termos regressado a fazer o que fizemos… Pelo menos eu pensei ‘ok, assim vai ser difícil ganharem-nos’. Para mim, a chave do título foi a vitória na primeira ronda.  

Sobre essa vitória, vocês fizeram alguma força para ser interrompido, porque de facto já se via muito pouco. Como é que tomaram essa decisão? Não quero dizer que é uma roleta russa, mas era quase. Tanto podia correr muito bem como podia correr mal, é uma margem muito curta. Pensaram, fizeram um prós e contras?

Não pensámos muito. Eu até fui o primeiro a perguntar ao Nuno se estava a ver bem, depois chamei o Rogério e perguntei-lhe se podíamos parar, mas ele disse que ainda havia alguma luz natural. Fomos fazendo um esforço, mas houve uns pontos em que claramente perdemos por reações muito lentas e dissemos ao árbitro que não conseguíamos jogar. É um facto que entrar no campo para jogar um super tie-break é um bocadinho aleatório, mas era preferível isso e poder ver bem e controlar tudo o que acontecia do que jogar à noite, sem conseguir ver.

Quando isso acontece vão para o hotel e o Nuno no dia seguinte tem a segunda ronda de singulares contra o Tiafoe, que é a grande prioridade dele. Ou seja, eras tu o grande protagonista do pensamento, da estratégia, nessa noite em que o encontro é interrompido. Como é que lidaste com a situação e o que é que fizeste para tentar garantir que no dia seguinte voltavam a full?

Evitei ao máximo falar com ele sobre o par, apesar de muitas vezes ter sido ele a tentar introduzir o assunto eu dava respostas curtas, porque sei e respeito que a prioridade dele são os singulares. Apesar de este ser um torneio muito importante para mim e também uma excelente oportunidade, também respeito o espaço dele. Fui pensando e falei muito com o Rui [Machado] tanto no próprio dia [em que foi suspenso] como no seguinte, mais perto do regresso, sobre aquilo que faríamos ou que podíamos mudar. Mas também estava tranquilo, porque apesar de termos ganho um set e perdido o outro senti que estávamos longe do nosso melhor e achava difícil jogarmos pior do que no primeiro dia. Eu não tinha servido bem, estava a causar-nos dificuldades nos meus jogos de serviço, e o Nuno também não estava assim tão fino, estava mais lento, portanto senti que era difícil voltarmos piores e isso deu-me alguma tranquilidade. E depois foi encarar como encaramos sempre, com intensidade, atitude e dando o nosso melhor seria o que fosse.

Enquanto par, quais consideras serem os teus pontos fortes e os do Nuno? Porque é que se complementam tão bem?

Para mim não chega só seres muito bom a servir, à rede ou a responder, porque vais ter de fazer tudo e em todo o lado se quiseres ganhar aos melhores. E acho que uma das nossas maiores qualidades é o facto de sermos completos e conseguirmos fazer tudo um bocadinho. Somos os dois grandes, servimos bem, gostamos de responder de forma agressiva e acho que temos uma boa percentagem de resposta que também nos dá alguma tranquilidade a servir, porque sentimos que, como respondemos bem, a qualquer momento do jogo pode cair um break para o nosso lado. Acho que a rede é uma zona em que tenho vindo a sentir-me cada vez mais confiante, mas ainda tenho muito a melhorar. O Nuno ao fundo também me dá uma tranquilidade muito grande, porque a bola atrás de mim sai com qualidade e permite-me mexer e trabalhar da melhor maneira à rede para ajudar. Temos os dois coisas para melhorar e isso traz-me confiança e alegria para poder trabalhar, porque acho que o nosso potencial ainda não foi totalmente explorado.

E a resposta ao serviço nos pontos de ouro, como é que funciona? Está pré-decidido ou é no momento?

Não está decidido, vamos mais pelo momento e pelas percentagens. Não quero estar a revelar tudo, mas jogamos com as percentagens. Se calhar a nossa melhor combinação é ele atrás e eu à rede, o que significa que se for ele a responder eu consigo chegar mais rapidamente à rede, mas vamos variando. Muitas vezes é com o feeling, aconteceu no jogo com o Murray e o Venus eu assumir um ou dois pontos de ouro e ganharmos.

Depois das meias-finais disseram-te, em conferência de imprensa, que o Presidente da República ia visitar o torneio no domingo e tu respondeste qualquer coisa como ‘se ele vier ao balneário é bom sinal, quer dizer que ganhámos’. Parecias-me muito relaxado em relação a isso, mas depois há aquele momento em que estão no túnel e ele é a primeira pessoa que te aparece e fiquei com a ideia de que ficaste muito surpreendido e sem saber o que dizer. Lembras-te desses momentos?

Em relação a ele aparecer e ver o jogo eu estava mil por cento tranquilo, porque não penso sequer em quem está a ver, mas sim em jogar, em ganhar, em procurar soluções para os problemas suficientes que já temos, porque não somos os únicos a querer ganhar. Mas sim, quando o Presidente me apareceu à frente no túnel a minha reação foi ‘wow, ele está mesmo aqui’. Ele fez-nos uma ou duas perguntas e eu estava meio especado a olhar sem saber o que lhe responder, porque foram palavras muito elogiosas e só me coube mesmo agradecer. Estava mais ou menos a contar que ele viesse, mas não esperava que fosse logo à saída do campo e foi isso que me apanhou de surpresa.

Depois há o momento em que abraças a tua família. O que é que pensas e sentes nessa altura?

Senti-me ainda mais feliz, porque olhei para as caras deles e senti um orgulho enorme no que tinha acabado de fazer. Isso é muito, muito motivante e gratificante para mim, porque para além de querer ganhar por mim, eles são uma peça fundamental na minha vida desde sempre.

E houve festa?

Não, não [risos]. Paguei o jantar ao [Gonçalo] Falcão e a um amigo, mas depois fui para o hotel.

O Nuno disse-me que fora do campo eras mais conversador do que ele no que dizia respeito a procurar ter conversas com outros jogadores. Ele disse que tentaste procurar conselhos do Herbert, podes falar um pouco sobre esses momentos?

Tento sempre aprender e gosto de aprender. Tenho o privilégio de aprender muito com o Rui, que foi meu treinador e já esteve no circuito, mas também há jogadores que estão num bom patamar nos pares e procurei uma vez falar com o Herbert porque estávamos sozinhos no balneário. Estivemos ali uma meia-hora à conversa e eu aproveitei para lhe colocar algumas perguntas que gostava de esclarecer e ele foi muito aberto e deu-me os conselhos que achava que devia dar. Tirando-o não procurei mais nenhum jogador de pares, porque gosto muito do Herbert, ele joga do meu lado e fiquei esclarecido com o que ele me disse. Se começar a jogar torneios deste nível e até maiores terei oportunidades para conversar com outros jogadores, mas no Estoril o único com que falei acerca dos pares foi ele. Também falei bastante com Frances Tiafoe [finalista de singulares], mas mais sobre a vida, e muito com o Sebastian Baez [campeão], porque é uma pessoa com que já tenho uma relação há muitos anos dos ITF e é um miúdo cinco estrelas.

Os pares não são uma variante que tenha muita visibilidade em termos televisivos e também foi a tua primeira vez ao vivo a este nível, por isso houve alguma coisa que retiraste do que ias observando? Deu para fazeres uma certa pesquisa só de observar?

Muito sinceramente não fui pesquisar muito. Fui vendo um ou outro exercício que faziam nos treinos, mas em termos de jogo não procurei muito. Como é que hei de explicar isto sem parecer convencido… Acreditei sempre que os outros iam ter de procurar mais o que nós fazíamos, para nos ficarem a conhecer. Por exemplo, sei que o Jamie Murray conhecia os nossos resultados nos Challengers porque comentou com o Rui Machado que de certeza que éramos uma equipa muito boa porque tínhamos muitas vitórias e por isso gostava de ver-nos jogar. Mas fui fazendo a minha vida normal, a treinar com o Nuno e também com o [Gonçalo] Falcão, porque já tenho um treino estipulado que me dá confiança. Claro que sempre que tive um momento mais morto ia espreitando, mas acreditei sempre que eles iam precisar de fazer mais pesquisas do que nós.

Mas procuraste treinar com outros jogadores?

Apesar de ser o Millennium Estoril Open e o maior torneio que eu alguma vez joguei decidi que ia fazer tudo igual aos outros torneios porque tem dado resultado, por isso treinei com o Borges e quando precisava fazia mais uma hora com o Falcão, porque ele também gosta de treinar comigo, esteve disponível a semana toda e aproveito para lhe agradecer.

Qual é que foi a pessoa que te dirigiu para os pares?

Sem dúvida que essa pessoa foi o Rui Machado. Já no tempo em que eu estava no CAR ele introduzia-me várias vezes o tema dos pares, porque via potencial em mim. Nunca me disse ‘tu não tens capacidade para jogar singulares’, mas sempre me disse que me via a chegar alto nos pares. Claro que o sonho de qualquer pessoa que começa é jogar singulares e não os pares, portanto no início era algo que me fazia comichão. Ele próprio sabe que não me disse numa segunda-feira e eu na quarta-feira já estava dedicado aos pares, não. Demorei mais de um ano a aceitar, mas a partir do momento em que comecei a jogar e a ganhar cada vez mais essa decisão tornou-se mais fácil e hoje vivo cada vez melhor com ela.

Aproveitando que falas do CAR, tu sais do projeto em 2019, depois de jogares a tua terceira final de singulares do Campeonato Nacional Absoluto. Consegues recuar um pouco a essa altura? Tinhas um caminho definido, como é que se processou?

Na altura havia um contrato estipulado e eu acabei por não atingir os objetivos a que me propus e que me impuseram. Acabou por ser uma decisão compreensível, que eu aceitei, tanto que saí com excelentes relações com as pessoas de lá. Hoje em dia são super abertos comigo e eu gosto de estar na presença deles. São pessoas que tiveram muita importância no meu crescimento como jogador, pois foi lá que comecei a minha carreira profissional. Ajudaram-me a criar métodos, a ser trabalhador, ambicioso e a lutar. Tinha noção de que não estava ao nível em que queria estar e que achava que podia estar. Foi um não renovar do contrato e eu tive de encontrar outras soluções.

Desistir chegou a ser uma opção?

Sinceramente não me passou pela cabeça desistir, pelo menos não naquele momento. Claro que senti que tinha uma oportunidade muito boa no CAR, não vejo um sítio melhor para começar uma carreira, porque têm tudo e não vejo um sítio melhor em Portugal. Mas sim, no início senti-me um bocadinho perdido. Tinha excelentes condições e não sabia onde é que ia encontrar igual, ou o mais parecido possível. Claro que me custou bastante, mas fui procurando as minhas soluções no Porto. Depois andei sozinho durante muito tempo, até que o João Maio me convidou para treinar na Maia e ainda estive lá uma boa temporada com o Borges.

E atualmente quem é que é o teu treinador?

Sou eu [risos]. Tenho algumas pessoas em quem confio, que me aconselham e que veem os jogos e estão lá para me ajudar, não tenho uma pessoa que considere ser mesmo o meu treinador.

Não tens por opção ou por não ser viável?

Neste momento não sinto essa necessidade. Sinto que cresci muito no último ano e meio, dois anos, e que também aprendi muito. Acho que sou cada vez mais capaz de coordenar o meu próprio treino e de saber aquilo que tenho para melhorar. Vejo todos os meus jogos do início ao fim e procuro ver sempre porque é que falhei. É claro que não sei tudo sobre ténis, longe disso porque tenho muito para aprender, mas às vezes pego num vídeo e pergunto a alguém com mais experiência porque é que falhei ou o que é que está a acontecer e depois procuro aprender. Não quero parecer arrogante, mas neste momento há poucas pessoas em quem realmente acredito em relação ao ténis. Não acredito em ninguém ao ponto de estar a dar do meu dinheiro para me estar a ensinar e a viajar comigo, ou se calhar não estou disposto a dar a quantia que é necessária àquelas em quem confio.

Gosto da maneira como estou a trabalhar neste momento, também passo muito pouco tempo sozinho no Porto. Vou muitas vezes a Lisboa, treino muitas vezes com o Falcão no CIF e está sempre um treinador no campo, tal como quando treino no CAR, e apesar de essas pessoas não serem meus treinadores temos uma boa relação e sempre que há alguma coisa que veem que está a falhar dão-me a sua opinião e agradeço-lhes por isso. Não tenho um treinador, mas tenho pessoas que procuro quando tenho dúvidas.

Uma delas, pelo que disseste, foi o João Sousa. Como é que foi essa conversa antes da final? Foste tu que o procuraste?

O João sempre foi um ídolo por tudo o que conquistou e os caminhos que abriu, não só para mim como para toda a gente que joga ténis em Portugal, mas era uma pessoa com quem eu tinha relação que não passava de um ‘Olá, tudo bem?’. Mas por estranho ou engraçado que pareça, a nossa relação começou a crescer durante a quarentena, através do [videojogo] Fortnite. Jogámos várias vezes juntos, houve uma altura em que jogávamos várias horas quase todos os dias e a relação acabou por crescer a partir daí. Hoje em dia é uma pessoa com quem tenho uma relação muito, muito boa. Ele sempre foi muito aberto comigo e sempre me ajudou naquilo que pode e no que não pode. E naquele momento eu senti que ‘ok, estou bem e com confiança, mas é o meu primeiro torneio ATP e a minha primeira final, portanto tudo o que puder controlar vou controlar’. Por isso abordei-o com o intuito de saber se havia alguma coisa importante que eu devesse saber ou estar à espera, não só em relação aos adversários, mas no geral. E ele foi muito aberto comigo e disse-me aquilo que sentia que podia ajudar e ajudou-me muito.

Mas foi mais ao nível da gestão das emoções?

Não, por acaso foi mais ao nível tático. O nível das emoções foi mais com uma dica ou outra durante a semana. Tanto dele como do Frederico [Marques, treinador], que é uma pessoa com quem tenho uma boa relação e que sempre que pode também me dá umas palavras.

Sei que antes do Millennium Estoril Open chegaste a inscrever-te em torneios ATP com o João, mas não entraram. Continua a ser uma hipótese em cima da mesa?

Esta semana estou em Praga com o Borges e ainda não decidi se jogo ou não a próxima, em Bordéus, porque estou à procura de parceiro. Mas na seguinte estou inscrito com o João no ATP 250 de Genebra e apesar de termos ficado dois lugares fora, a 16 quando entram 14, ele está confiante de que podemos entrar porque há sempre uma ou outra desistência, por isso o meu próximo torneio ATP deve ser esse com o João.

E o que é que tu procuras num parceiro de pares? É a relação pessoal ou tem de ter certas coisas no jogo dele que sentes que te complementam?

O melhor dos dois mundos é alguém com quem eu me identifique fora do campo e que ache que o jogo completa o meu, mas nem sempre funciona assim. Por exemplo, com o João Sousa tenho uma excelente relação e ele tem imensa experiência, portanto vejo aqui uma oportunidade para além de fazermos um bom torneio conseguir aprender várias coisas.

E para Roland-Garros?

Não estou inscrito com o Nuno porque em princípio não entramos, por isso vou procurar alguém para ver se consigo entrar no cut. Por muito que eu gostasse de jogar com o Borges, as probabilidades são baixas mesmo ganhando o torneio aqui e Roland-Garros tem demasiado dinheiro envolvido para eu me poder dar ao luxo de ficar de fora. Se conseguir arranjar alguém vou inscrever-me, caso contrário inscrevo-me com o Borges e ficamos como alternates. No ano passado o cut foi a 149, por isso o ideal para mim seria encontrar alguém por volta dos 60 melhores classificados [o cut é a soma dos melhores rankings de ambos os jogadores, independentemente de serem singulares ou pares].

Já abordaste alguém com essa classificação?

Por enquanto ainda não abordei ninguém pois sabia que o Millennium Estoril Open podia mudar muitas coisas. Claro que agora tenho hipóteses maiores, mas o torneio acabou anteontem e vim de viagem. Estando aqui em Praga vou começar à procura de um parceiro.

Há um ano, nos primeiros torneios Challenger do Jamor, dizias-me que ainda não estavas a dedicar-te a 100% aos pares, que não ias desistir dos singulares, e agora estamos a falar de jogares em Roland-Garros. Tens noção de como as coisas evoluíram num período de tempo tão reduzido?

[risos] Tenho. Se me perguntasses se eu estava a dedicar-me a 100% aos pares a resposta verdadeira era um não, mas se me perguntasses se estava a fazê-lo a 80% ou a 90% talvez já estivesse. A primeira vez em que assumi publicamente que estava decidido a 100% em relação aos pares foi quando fiz a minha primeira viagem para fora só para jogar pares, depois do Challenger do CIF.

Ainda em relação a 2021, no Millennium Estoril Open do ano passado estiveste o tempo todo ao meu lado nos bancos laterais do Estádio Millennium. Tinhas a esperança de jogar o torneio com o Nuno, mas acabaram por não conseguir, e este ano foram lá e saíram como campeões. Por muita confiança que tivessem, imagino que não era fácil pensar numa subida tão rápida…

Não, claro que não. Ganhar o Millennium Estoril Open é um sonho e ninguém pensa que um sonho se vai concretizar na primeira vez em que tentas. Se me perguntarem se eu estava à espera a resposta é não, mas se achava possível a resposta é sim. Acho que a nível mental a primeira ronda desbloqueou-nos muita coisa, porque ganhámos a dois jogadores dentro dos 35 primeiros e o Dodig tinha ganho os pares mistos na Austrália. Essa ronda deu-nos aquele extra de confiança para sair com o título, porque nas meias-finais e na final já sentia que dependia mais de nós.

Falaste nos pares mistos, consideras jogar alguma vez? E já agora com quem?

Porque não? Sinceramente não faço sequer a mínima ideia de como fecha [o cut] de um torneio do Grand Slam em pares mistos, só sei que o quadro é mais pequeno. Estou a 80 do mundo e ainda nem garanti a entrada nos pares masculinos, por isso acho que isso é algo que ainda está muito longe. Mas se pudesse escolher, escolhia a Iga Swiatek, que não perde um jogo [risos].

Com esta vitória subiste a 80.º do ranking de pares. Onde é que te vês no final do ano e o que é que gostavas de atingir até lá?

O objetivo é sempre subir mais, mas a partir de setembro começo a defender muitos pontos e ainda “não sei” como é passar por essa fase. Mas se me mantiver saudável e conseguir jogar mais torneios ATP do que Challengers gostava de acabar o ano dentro dos 50 primeiros, quem sabe mais ainda. Logo se vê! Também gostava de jogar os meus primeiros torneios do Grand Slam esta época, se possível já em Roland-Garros, e, claro, ajudar Portugal a ultrapassar o Brasil na Taça Davis, em setembro.

E qual é o teu maior sonho?

O meu maior sonho seria ganhar um torneio do Grand Slam, mas ainda há muita sopinha para comer primeiro [risos].

Para terminar, onde é que está o troféu?

Está numa prateleira em minha casa. Quando comecei a ganhar torneios Challenger a minha mãe fez umas mudanças no meu quarto e agora tenho um armário em frente à cama com luzes, para colocar lá as taças, e ela já colocou lá a do Millennium Estoril Open. Só não está na do meio porque é mais alta do que a prateleira [risos].

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