Alcaraz salva um match point e leva Roland-Garros à loucura com vitória em duelo de hermanos

Chapeau.

Carlos Alcaraz salvou um match point e derrotou Albert Ramos-Vinolas por 6-1, 6-7(7), 5-7, 7-6(2) e 6-4 após 4h34 que fizeram deste o melhor encontro de Roland-Garros até ao momento. O espanhol, que está na mesma metade do quadro de Novak Djokovic, Rafael Nadal e Alexander Zverev, mantém-se vivo e está na terceira ronda.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Paris

As mãos levadas à cabeça em total sincronia ponto após ponto nas bancadas descrevem na perfeição o ambiente que se viveu no pitoresco Court Simonne-Mathieu, palco surpreendente — é “apenas” o terceiro maior do complexo e o espanhol já arrasta multidões semelhantes às de Nadal e Djokovic… — para o segundo encontro do jovem de Múrcia nesta edição do torneio, a primeira em que tem o estatuto de estrela.

O ambiente foi frenético, o encontro de alta voltagem: disputado ao mais alto nível desde os primeiros instantes, que Alcaraz aproveitou para construir vantagem com o seu ténis explosivo, ficou equilibrado a partir da segunda partida, na qual Ramos-Vinolas — mais velho (34 anos contra 19), bem experiente em encontros à melhor de cinco sets e muito à vontade em terra batida lenta — usou os anos de circuito para contrariar a juventude do compatriota.

A pancada de direita foi o alicerce de ambos para uma batalha que ganhou contornos épicos, mas de todos os lados e zonas do campo se fez a festa: à esquerda e à direita, atrás e à frente da linha de fundo, com bolas altas e bolas baixas; o duelo entre Alcaraz e Ramos-Vinolas foi um livro explicativo do que de melhor se pode fazer com uma raqueta na mão e nesse capítulo quem mais se destacou foi o jovem espanhol, que depois de meses gloriosos nas categorias inferiores (venceu os ATP 500 do Rio de Janeiro e de Barcelona e os Masters 1000 de Miami e Madrid) deu o ar da sua graça ao mais alto nível.

“Sinto que estou a jogar em casa”, revelou já com a vitória garantida, e é esse sentimento que Alcaraz tem transparecido por todos os palcos por onde passa. Dos pisos rápidos de Miami à terra batida do Rio, de Barcelona, de Madrid e agora de Paris, o ainda adolescente (é importante não esquecer) tem ténis de graúdo e para além do ténis tem o olhar — aquele olhar que o mostra agarrado ao encontro mesmo quando o marcador é presságio de apuros.

Com muitos cerrar de punho, muitos “ganchos” de ambos os braços e muitos braços no ar, Alcaraz conquistou o público e nele se apoiou para ter as forças que lhe permitiram chegar a bolas que pareciam perdidas, dar a volta a situações que pareciam definitivas (depois de salvar um match point no quarto set que venceu com um tie-break perfeito perdeu os três primeiros jogos da quinta partida) e concretizar o que se traduz numa das vitórias mais duras e mais especiais da carreira.

Número seis mundial e sexto cabeça de série, Carlos Alcaraz continua vivo. E fá-lo numa metade do quadro em que também estão três dos seus quatro maiores rivais em Paris — Stefanos Tsitsipas foi o único a fugir a esta secção do quadro, estando na mesma metade do quadro que o número dois mundial Daniil Medvedev (longe de ser a maior ameaça no que ao pó de tijolo diz respeito).

Sebastian Korda e Richard Gasquet, já em ação no Court Suzanne-Lenglen quando o prodígio espanhol completou a revirvolta, não terão visto nada do que aconteceu neste encontro de hermanos. Mas o vencedor que se prepare: terá muito que estudar para ter hipóteses de discutir a passagem à quarta ronda na sexta-feira.

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