Trevisan afastou-se do ténis para lutar contra a anorexia. Agora está nos quartos de final de Roland-Garros pela segunda vez

Martina Trevisan foi responsável por muitos dos sorrisos que marcaram a atípica, fria e vazia edição de Roland-Garros em outubro de 2020, num ano em que o torneio do Grand Slam francês se antecipou ao circuito e anunciou o adiamento para datas sem precedentes por causa da pandemia de covid-19. Mas faltavam naquela campanha os aplausos, os cânticos e as celebrações a que a italiana teve direito este domingo, quando, um ano e meio depois, repetiu a proeza de garantir um lugar nos quartos de final. São tempos felizes naquela que é a melhor fase de uma carreira em que já travou a sua maior batalha.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros

Com uma alegria contagiante, a tenista de 28 anos igualou a melhor campanha da carreira graças aos parciais de 7-6(10) e 7-5 sobre Aliaksandra Sasnovich, bielorrussa que vinha de vitórias sobre Emma Raducanu e Angelique Kerber e esta manhã chegou a servir para vencer ambos os parciais.

O encontro foi equilibrado, mas não bonito: contabilizaram-se 82 erros não forçados ao longo de 1h52, dos quais 55 na primeira partida, em contraste com apenas 39 winners. Numa manhã fria, ventosa — a mais desagradável dos primeiros oito dias de Roland-Garros — faltou espetáculo, mas não alegria. E a italiana mereceu fazer a festa perante vários milhares de espetadores no Court Suzanne-Lenglen, onde celebrou a nona vitória consecutiva dado que chegou a Paris com o título de campeã do WTA de Rabat (em que recuperou da desvantagem de um set para surpreender Garbiñe Muguruza e depois só perdeu três jogos na final com Claire Liu) na bagagem.

Trevisan travou, em tempos, a maior batalha da carreira: “Odiava o meu corpo e impus a mim própria dietas que me permitiam sobreviver no limite, como comer 30 gramas de cereais e uma peça de fruta à noite.” A explicação não é de agora, mas de quando atingiu pela primeira vez os quartos de final de Roland-Garros, naquele outubro que este domingo está a fazer lembrar, e a propósito da batalha que teve de travar depois de perder o pai.

“Felizmente, quando estava a chegar a um ponto sem retorno apercebi-me de que não podia continuar assim. Tinha perdido todo o interesse e já não me reconhecia, mas fui reeducada a comer e a fazer as pazes com as minhas feridas.” Foram quatro anos de luta, quatro anos sem a raqueta na mão, até que venceu. E depois da felicidade de 2020, a de 2022 é ainda maior — por provar que não se tratou de um episódio único, por vir embalada do primeiro título ao mais alto nível e por poder partilhá-la com milhares de espetadores.

Iga Swiatek, que só sairia de Paris com o título, travou-a nessa edição. Agora, a número um mundial está na metade oposta do quadro e a adversária será outra, mas também com motivos para preocupação: sairá do duelo entre Amanda Anisimova, semifinalista em 2019, e Leylah Fernandez, a vice-campeã do US Open.

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