Para a história: Murray vence encontro monumental de seis horas que termina às 4h05 da manhã em Melbourne

O nascer do sol estava a duas horas de distância quando Andy Murray fez o impensável: às 4h05 da manhã em Melbourne, o britânico derrotou Thanasi Kokkinakis num encontro que se prolongou por 5h45 e que se transformou no mais longo da sua carreira e no segundo mais longo da história do Australian Open.

Apenas dois dias depois de ter anulado um match point a caminho de um triunfo em 4h49 sobre Matteo Berrettini na primeira ronda, o ex-número um mundial voltou a fazer das suas. Desta vez não precisou de anular um match point, mas esteve a perder por 4-6, 6-7(5) e 2-5 e acabou a vencer por 4-6, 6-7(4), 7-6(5), 6-3, 7-5.

Kokkinakis, jovem de 26 anos que nunca conseguiu corresponder ao potencial que apresentou desde muito novo, mas que sempre se deu bem na Austrália, fez quase tudo bem. O australiano, aliás, apontou 102 winners, entre os quais 37 ases, e teve um pé e meio na terceira ronda. Mas do outro lado da rede estava um dos melhores jogadores da história do ténis e deste torneio em particular (Murray, que jogou cinco finais mas nunca venceu o Australian Open, tem mais vitórias em Melbourne do que 23 dos 27 campeões do torneio na Era Open).

Murray, que começou por demonstrá-lo ao terceiro jogo do terceiro set com um dos pontos que melhoram ilustram a sua carreira, foi igual a si próprio. E mesmo quando parecia derrotado não deitou a toalha ao chão, agarrando-se a cada janela de oportunidade e até aos jogos em que não teve réplica para oferecer ao adversário, nove anos mais novo e sem uma anca de metal como a que ganhou há exatamente quatro anos.

Uma vez mais, o espírito de sacrifício do escocês foi posto à prova. E uma vez mais sobressaiu. O resultado foi a 11.ª vitória da carreira depois de estar a perder por dois sets a zero — mais do que qualquer outro jogador no ativo.

Tal como Berrettini na terça-feira, também Kokkinakis esta quinta-feira esbarrou na dificuldade de superar o jogador que mais foi capaz de duelar olhos nos olhos com Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic durante mais de uma década. Contra todas as expetativas, à medida que o encontro evoluiu foi o britânico, significativamente mais velho e fustigado por tantos problemas físicos nos últimos anos, a apresentar maior frescura física do que o australiano, também ele com um historial preenchido de problemas (desde uma operação complicada ao ombro a lesões nas costas, joelhos e tornozelos).

Apesar de ter continuado a encontrar muita resistência do outro lado da rede, pois não houve nenhum momento do encontro em que um jogador tenha assumido o controlo de forma destacada, Murray ganhou presença. Com um ténis cada vez mais ofensivo, os winners a sairem-lhe da raqueta enquanto os ponteiros do relógio avançavam pela madrugada dentro, teve armas para as investidas do adversário e conseguiu forçar uma quinta e decisiva partida. Eram 2h59 da manhã em Melbourne.

As bancadas da Margaret Court Arena já não estavam tão preenchidas quanto no início (não havia uma cadeira à vista) quando Murray e Kokkinakis entraram no quinto set, mas ao contrário dos níveis de afluência a qualidade do encontro não diminuiu. Winner para cá, winner para lá, raros os erros não forçados que não partiam de boas iniciativas e equilíbrio, sempre muito equilíbrio, até que ao sétimo jogo, aquele em que o encontro chegou às 5h08 e se tornou no mais longo da carreira para o britânico, surgiram os primeiros break points.

Primeiro ao 0-40, depois nas vantagens, ao todo foram quatro e quatro Kokkinakis salvou. Com nervos de aço e um serviço que no final valeu muitos elogios do adversário, o jogador de Adelaide (onde há um ano viveu outro dos pontos altos da carreira, esse com final feliz) chegou ao 4-3. Breves minutos depois parecia ter virado o parcial a seu favor e esteve a dois pontos da vitória no “saque” de Murray, que não só lhe fechou a porta, como no jogo seguinte demonstrou que não aproveitar quatro pontos de break em tal circunstância era receita proibida.

Assim, também ele ao quarto ponto de break e após um jogo dramático, o ex-finalista ganhou finalmente a oportunidade de servir para a vitória, que concretizou com uma direita paralela.

O relógio do court assinalava 4h05 da madrugada, a não serem confundidas com as 5h45 mais visíveis e que diziam respeito à duração do encontro — apenas a oito minutos de igualar a final de 2012, ganha por Novak Djokovic a Rafael Nadal após 5h53, como o mais longo da história do torneio.

Aos 35 anos e com uma anca metálica, Andy Murray voltou a fazê-lo.

Dois dias depois de ter celebrado a primeira vitória contra um top 20 em torneios do Grand Slam desde 2017, carimbou o apuramento para a terceira ronda de um “Major” também pela primeira vez desde 2017. Segue-se Roberto Bautista Agut. A ironia? Há três anos, exatamente neste torneio, o espanhol derrotou-o naquele que então descreveu como o possível último encontro da carreira — e que até teve como desfecho um “vídeo tributo” com as maiores estrelas do desporto.

Última atualização às 19h02.

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