Das muletas às bicicletas, Sara Sorribes sorri de novo a fazer o que mais gosta

Sara Falcão/FPT

OEIRAS – Sara Sorribes Tormo é conhecida no circuito WTA por fazer a cabeça em água às suas opositoras. As capacidades defensiva e física invulgares e a inteligência para saber como incomodar quem está do outro lado da rede ganharam fama sobretudo em 2021, ano de excelência para a espanhola de Castellón. A subida às 40 melhores WTA e ao corredor dos títulos muito às custas da capacidade de luta teve sequelas no próprio corpo e a paragem de cerca de seis meses foi necessária para cicatrizar todas as malácias, mas a entrada tardia em 2023 augura o regresso aos bons velhos (e recentes) tempos.

A vinda a Portugal para o Oeiras Ladies Open – o mais importante torneio feminino por cá desde 2014 – acabou por ser natural face à queda das 100 primeiras da hierarquia (ocupa, atualmente, o posto 101 WTA) e Sara Sorribes Tormo já está nas meias-finais sem problemas de maior, depois de triunfos esclarecedores sobre Luisa Meyer Auf Der Heide, Nuria Parrizas Dias e Erika Andreeva. “Estou muito feliz por regressar à competição e por disputar este tipo de encontros”, referiu depois da vitória por 6-1 e 6-4 sobre a compatriota na segunda ronda.

E foi escrito 6-1 como resultado do primeiro parcial, mas na verdade Sara Sorribes dispôs de set points para 6-0, marca registada nos placares recentes da espanhola. Depois de voltar à competição atingindo de imediato os quartos de final no WTA 250 de Bogotá, Sorribes jogou ao serviço da sua seleção e aplicou uma ‘bicicleta’ à mexicana Fernanda Contreras Gomez. Chegou a Oeiras e… novo 6-0, 6-0 face a Heide, pelo que ao 5-0 no embate frente a Parrizas Dias eram 29 os jogos consecutivos amealhados.

“Foram muito jogos seguidos, foi anedótico. Nunca mais acontecerá outra vez, é algo muito raro. Nunca imaginei que fosse possível e pensei nisso quando estava perto de fazê-lo de novo. Quando não aproveitei os set points pensei ‘é menos uma coisa para pensar, vamos jogar ténis”, contou entre sorrisos.

O mais de meio ano ausente como consequência do burnout corporal, como chegou a referir ao site da WTA, foi difícil de digerir inicialmente para alguém tão ávido por competição. “O pé agora está muito bem, sem dor. Demorei o tempo que tinha de demorar para que recuperasse. É verdade que podia ter apressado, mas não estava a 100%, preferi esperar, fazer tudo bem e só regressei quando estava tudo bem. Foi uma decisão acertada”, observou inicialmente, antes de detalhar um pouco mais. “Estive de muletas dois, três meses. Para quem está habituada a treinar todos os dias, a fazer coisas…eu adoro fazer desporto. Não podia fazer nada e isso mentalmente foi duro. Mas comecei a ver a vida de outra forma e a valorizar outras coisas fora do ténis”.

O pé direto “rompeu”, mas como nunca vira a cara à luta continuou na altura em court “mais seis horas em dois dias”, mesmo que fora do campo mal pudesse andar. Nada que, provavelmente, surpreenda Bianca Andreescu, que em 2021 venceu Sorribes num épico duelo de quartos de final em Miami. As declarações da canadiana no final do duelo resumem a tenista de 26 anos. “Ela joga diferente de todas as outras. É muito difícil defrontá-la porque não dá grande ritmo e devolve todas as bolas. À rede disse-lhe ‘rapariga, não podes correr para todas as bolas, és maluca”.

Pronta para endoidecer as adversárias, a vencedora do WTA de Guadalajara em 2021 não pensa em objetivos, apenas em “melhorar dia a dia”. A alegria por pisar os courts, em especial os de terra batida, é visível à distância e a boa disposição reina na conversa com os jornalistas, quase como quando as crianças voltam às aulas depois das férias de verão.

Férias que são a única ocasião na qual passou por Portugal, com exceção do Maia Jovem há muito anos, mas não hesita em apelidar de “país espetacular”. Pode tornar-se ainda melhor caso regresse aos triunfos. Em primeiro lugar vai lutar por regressar a finais e para isso tem de bater Danka Kovinic (72.ª WTA), que esta sexta-feira derrotou Marie Bouzkova (primeira cabeça de série), antes da chuva cair e interromper a jornada. A antiga 32.ª deixou a garantia de ir falar com a boa amiga checa para saber o que esperar da tenista de Montenegro, quinta favorita ao título.

Sara Sorribes tem, portanto, mais um ou dois embates para também mudar a mentalidade de quem a apelida de jogar defensiva. “Eu entendo perfeitamente porque durante muito tempo joguei muito atrás. É algo que estou a tentar melhorar, jogar mais à frente. Oxalá que daqui a algum tempo as pessoas mudem essa imagem de mim. Mas creio que tenho de trabalhar mais a transição para a rede. Eu gosto de estar na rede, sinto-me muito cómoda, mas tenho de conseguir lá chegar. E esse é o trabalho que estou a fazer”.

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