Viva la Vida, cantaram os franceses. E Monfils transcendeu-se entre o surrealismo

Uma session de soirée em Roland-Garros com um tenista francês tem tudo para ser animada. E se esse tenista francês for Gael Monfils (394.º) então tem tudo para ser épica. Pois foi isso mesmo que aconteceu esta terça-feira que em Paris entrou pela quarta-feira dentro, com o super-popular tenista da casa a fazer o que parecia impossível para sorrir por último no 21.º (e último) quinto set da primeira ronda que, mais de 63 horas depois do início, ficou finalmente concluída. E de que maneira.

Por Gaspar Ribeiro Lança, em Roland-Garros

Com o Court Philippe-Chatrier envolvido num ambiente que deixaria orgulhosa qualquer organização de uma final da Taça Davis, ‘La Monf’ transcendeu-se e derrotou o argentino Sebastian Baez (42.º) — campeão do Millennium Estoril Open em 2022 — por 3-6, 6-3, 7-5, 1-6 e 7-5 depois de se arrastar pelo court com cãibras quando estava a perder por… 0-4.

Houve de tudo um pouco nesta batalha que teve poucos momentos de ténis verdadeiramente bem jogado de parte a parte, mas foi a atmosfera vivida no maior palco da terra batida que transformou este duelo num dos mais marcantes dos últimos anos em Roland-Garros.

Desde o início que o público que esgotou o court principal deixou bem patente que esta seria uma noite barulhenta, mas foi já na quinta e decisiva partida, quando muitos até já estavam a abandonar as bancadas de um estádio que de repente ficou despido, que a sessão noturna de Roland-Garros entrou noutra dimensão — aquela reservada às lendas, aos encontros que não se esquecem e ao que o desporto tem de melhor.

Embalados por uma banda que tocou os primeiros acordes de Viva la Vida, dos Coldplay, os resistentes entoaram alto e bem som um dos maiores êxitos da banda britânica para fazerem ressuscitar Monfils.

E o impensável aconteceu.

Quando estava a ser travado pelas câibras que o obrigavam a arrastar-se pelo court num ponto em que a metáfora quase se transformou em realidade, ‘La Monf’ reinventou-se.

Um, dois, três, quatro jogos seguintes nivelaram o set. Mas como se ainda faltasse drama a este duelo com contornos dantescos o grande favorito do público foi quebrado em branco e deixou o pequeno-grande argentino a servir para o encontro.

E o impensável aconteceu. Outra vez.

Novamente levado às costas por um público que sempre puxou por ele, o artista gaulês encarou de frente mais uma luta, fez o contra break e com oito pontos ganhos em 10 jogados passou a pressão para o lado de Baez, que não resistiu.

Em estado de graça e na tal dimensão em que poucos têm a sorte de entrar, Monfils concluiu o último ato de uma peça repleta de improviso e levou o Court Philippe-Chatrier e Paris à loucura.

Passavam 18 minutos da meia-noite quando a missão ficou concluída.

3h51 de encontro, um 21.º quinto set entre os encontros da primeira ronda (um recorde em torneios do Grand Slam na Era Open) e um desfecho inesquecível para os que resistiram, mas também para os muitos que abandonaram a luta ainda a história ia a meio.

E assim Monfils, que não ganhava há 294 dias…
E assim Monfils, que não vencia num Grand Slam há 493 dias…
E assim Monfils, que ainda não tinha vencido enquanto pai…

Ici c’est Paris et lui c’est La Monf. Esta história de amor entre Roland-Garros e Gael Monfils continua nos próximos capítulos.

Última atualização às 00h59.

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