Djokovic renasce e vinga-se de Alcaraz ao vencer final de 3h49 no Masters 1000 de Cincinnati

Derrotado na final de Wimbledon há cerca de um mês, o sérvio Novak Djokovic regressou ao circuito com um título no ATP Masters 1000 de Cincinnati. Mas para o fazer teve de recuperar da desvantagem de um set e um break e anular um match point frente ao seu carrasco anterior, o espanhol Carlos Alcaraz, com quem protagonizou uma das finais mais dramáticas de que há memória no circuito masculino e que só ficou concluída após… 3h49.

5-7, 7-6(7) e 7-6(4) foram os parciais da reviravolta assinada pelo número dois mundial, que chegou aos 39 títulos em torneios da categoria (o recorde já era seu) e não perdeu tempo em classificar o duelo deste domingo como “um dos mais difíceis que joguei em toda a minha carreira independentemente do torneio, da categoria ou do adversário.”

Não se tratou de uma hipérbole: o duelo deste domingo (quarto entre ambos, terceiro da temporada e primeiro de sempre em piso rápido) atingiu um nível estratosférico durante o parcial decisivo, mas Djokovic começou por ter de superar severas e raríssimas dificuldades físicas sentidas por causa do calor extremo — cerca de 35 graus — que sentiu pela primeira vez esta semana, depois de realizar quatro encontros em sessão noturna.

Em claros apuros, o tenista de Belgrado esteve a perder por 7-5 e 4-2 e nessa altura pareceu afastado da discussão do encontro, mas uma quebra de rendimento repentina de Alcaraz no jogo de serviço seguinte permitiu a Djokovic recuperar o break de atraso. De regresso à discussão, já se sabe, a mentalidade passa por nunca deitar a toalha ao chão e foi isso que aconteceu.

Durante cerca de meia-hora a qualidade de jogo continuou a não ser a melhor, com muitos erros não forçados de parte a parte a mancharem os dois primeiros sets, que ficaram muito longe do nível praticado por ambos durante a histórica final de Wimbledon. Mas assim que Djokovic venceu o tie-break da segunda partida — no qual teve de anular um match point — tudo mudou.

O espanhol, número um mundial com 20 anos, e o sérvio, número dois mundial com 36 anos, entraram numa dimensão superior, apenas acessível a uma minoria que desafia os limites do ser humano, e transforam a final do Western & Southern Open num espetáculo que transcendeu as barreiras do ténis e se tornou rapidamente viral pelo mundo fora, ponto atrás de ponto a reunir aplausos e expressões de incredibilidade nas bancadas ao mesmo tempo que pela internet as reações acompanhavam ao mesmo passo a evolução do braço de ferro.

Num dia muito quente, foi entre a espada e a parede que ambos os tenistas atingiram os respetivos picos. E mesmo com a exaustão a tomar conta dos dois corpos e das respetivas mentes a final continuou a transformar-se num frente-a-frente tão dramático quanto épico.

Djokovic foi o primeiro jogador a quebrar no parcial decisivo ao aproveitar o quinto ponto de break que criou ao 3-3, quando Alcaraz deixou uma esquerda na rede. Mas o espanhol reagiu, salvou dois match points no jogo de serviço e outros dois no jogo seguinte para devolver a quebra de serviço. Com tudo empatado, o equilíbrio manteve-se e a pressão também, mas o jovem de Múrcia apresentou nervos de aço para anular quatro pontos de break e fez mesmo o 6-5 que lhe devolveu a liderança.

Só que por essa altura já era Djokovic quem tinha o (pequeno) ascendente e o sérvio venceu sete dos oito pontos seguintes para agarrar desde logo uma vantagem com um mini-break numa altura em que Alcaraz não conseguiu esconder as cãibras na mão direita quando começava o tie-break decisivo. Com muitos nervos, muita emoção à flor da pele e novamente muita qualidade, ainda houve mais uma troca de mini-breaks, mas foi mesmo o sérvio quem sorriu por último no segundo e derradeiro tira-teimas do dia.

3h49 depois, Novak Djokovic tornou-se no campeão mais velho da história do torneio de Cincinnati (superou os 35 anos de Ken Rosewall) e estendeu o próprio recorde de títulos em ATP Masters 1000: já são 39.

Cincinnati foi o palco onde, em 2018, se tornou no primeiro homem da história a completar o Career Golden Masters, isto é, a vencer todos os ATP Masters 1000 pelo menos uma vez. Agora, cinco anos depois, já conquistou pelo menos três títulos em todos menos em Monte Carlo (dois), mas continua a não haver mais nenhum jogador com o pleno de troféus na categoria.

O feito não será suficiente para recuperar o primeiro lugar do ranking a tempo do US Open, onde o adversário que derrotou este domingo terá o título a defender, mas voltou a colocá-lo em posição de igualdade com Carlos Alcaraz à partida para Nova Iorque no que ao favoritismo diz respeito.

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