Grande entrevista: A nobre alma de Andrey Rublev

Uma conversa com o moscovita sobre a sua crescente popularidade, a influência ibérica na carreira, a inevitável comparação com Marat Safin, a associação à Bulgari, o fisioterapeuta português, os Big 3 e… o estado da sua ‘nobre alma’.

Lentamente, mas inexoravelmente e um tanto surpreendentemente, Andrey Rublev emergiu como um dos jogadores mais populares do circuito — talvez porque os aficionados do ténis aprenderam a entender melhor e a apreciar devidamente a sua personalidade. O moscovita é conhecido desde a juventude pela incrível cadência que imprime com as suas poderosas pancadas no fundo do court e também por ser muito temperamental; com o passar dos anos, também se tornou conhecido por ser alguém encantadoramente genuíno, admiravelmente vulnerável e com muito bom coração. E por ter escrito um apelo de paz numa câmara de televisão.

Conseguirá Andrey Rublev ser um dos grandes protagonistas da temporada de 2024? Para já, escolheu iniciar a temporada em Hong Kong antes de rumar à Austrália, depois de concluir 2023 com um título diferente — o da World Tennis League, representando a Team Eagles com Daniil Medvedev, Mirra Andreeva e Sofia Kenin. Desportivamente, a época transata foi um tanto agridoce: teve momentos inéditos e reforçou o seu estatuto de top 5 mundial, mas também foi algo frustrante devido à malapata nos quartos-de-final dos torneios do Grand Slam e alguns desaires em duelos muito equilibrados. Fora do court, as coisas correram ainda melhor: granjeou uma simpatia quase universal entre os fãs e destacou-se como embaixador de uma tão prestigiada marca de luxo como a Bulgari, catapultando o seu nome para outras esferas mediáticas.

Sobretudo, a temporada teve vários momentos simbólicos. Um deles ocorreu após a final do Dubai perdida para o amigo e compadre Daniil Medvedev, que no seu discurso de vitória disse «acho que as pessoas começam a perceber que o Andrey é provavelmente a pessoa mais bondosa do circuito» (ao que Rublev respondeu «é mentira!»). Em abril, o russo conseguiu finalmente ganhar um primeiro título Masters 1000 de maneira espetacular — recuperando de 1-4 e break point contra no terceiro set para vencer Holger Rune com a preciosa ajuda do público no Monte-Carlo Country Club: os espetadores cantaram o seu nome em uníssono e empurraram-no para a vitória; no fim, ficou sensibilizado com o apoio dos espectadores e não conseguiu esconder a sua emoção… mas ele também nunca foi de esconder felicidade ou frustração.

EMBAIXADOR

Andrey Rublev tem igualmente um sorriso cativante e o seu visual ruivo chamou a atenção da Bulgari, a reputada casa italiana de artigos de luxo que fez dele o seu primeiro embaixador desportivo. Hoje em dia, o verdadeiro sinal de que um tenista se estabeleceu no topo é um contrato com uma prestigiada marca de relógios; ao longo do ano, o moscovita regalou-se ao usar diversos modelos da marca (Octo Finissimo, Octo Roma e Aluminium). Primeiramente, logo após os encontros e nas cerimónias de entrega de prémios; mas, em Wimbledon, estreou-se a jogar de relógio no pulso com uma edição especial inspirada por ele — o Bulgari Aluminium Match Point Edition — e especialmente concebida para o ténis, extremamente leve. No Masters 1000 de Xangai até cometeu a ‘proeza’ de usar dois relógios no dia da final: o Aluminium Match Point Edition durante o encontro e o Octo Roma na cerimónia de entrega dos troféus. Para além de embaixador, a Bulgari também o tornou parceiro de sua iniciativa filantrópica Save the Children. O próprio Andrey joga com equipamentos que têm a inscrição ‘Play for the Children’. E as crianças adoram-no, provavelmente porque ele é o Peter Pan do ténis: ainda exala o mesmo charme juvenil e parece que nunca irá perdê-lo.

Mas isso não significa que ele não seja levado a sério. Pelo contrário — foi o único (entre ATP e WTA) a ganhar pelo menos 50 encontros em cada uma das últimas três épocas e conta com 14 títulos ATP no seu palmarés, para além de uma medalha de ouro olímpica em pares mistos e de troféus coletivos na Taça Davis, ATP Cup e Laver Cup. Mesmo que não esteja na primeiríssima linha de favoritos nos Majors e que entretanto jovens como Carlos Alcaraz e Jannik Sinner se tenham aproximado do líder do ranking Novak Djokovic, existe a ideia de que, de um momento para o outro, a tal malapata nos quartos-de-final (nove, um recorde!) dos torneios do Grand Slam pode ser ultrapassada. Afinal, como alguém disse certa vez num filme da Disney, «onde há gentileza, há bondade; e onde há bondade, há magia». Carlos Costa, o seu fisioterapeuta português, diz que «de todos os jogadores com que trabalhei, é o único que disponibiliza o tempo após os encontros para todos os fãs que o vão». Conseguirá ‘Rublo’ ser recompensado pela sua gentileza e produzir magia para transformar um dos quatro eventos do Grand Slam na sua Neverland?

Aqui fica um condensado de conversas tidas com Andrey Rublev ao longo de 2013 — de Monte-Carlo a Wimbledon, passando por uma entrevista maior realizada em privado no Real Club de Tennis de Barcelona. Acabou por ser uma troca de ideias fascinante e houve alguns aspetos principais que se podem extrair dela: o seu uso frequente da expressão ‘in love’ (no sentido de se apaixonar); as razões por trás da sua ligação com o ténis espanhol são diferentes do que as pessoas possam pensar; e a sua cândida ignorância do quanto parece um personagem digno de um romance de Dostoievski…

O teu treinador, Fernando Vicente, disse certa vez que tinhas uma ‘nobre alma’. Essa afirmação é marcante — e confirma que tu não só és boa pessoa, mas também alguém sensível a causas sérias e que mostra fair-play no court. O que achas do que ele disse?

Ele está a mentir um bocadinho, não? (risos) É uma boa pergunta para se fazer a ele. Eu não gosto de falar de mim, não consigo descrever-me. Só posso dizer que, quando faço algo menos adequado ou quando o erro é meu, posso facilmente admitir que sou o culpado. Apenas tento ser melhor enquanto pessoa. Cada um tem critérios diferentes para definir o que é uma boa pessoa. Eu tenho a minha própria visão do que é a gentileza e a bondade; tento trabalhar para me tornar uma pessoa melhor.

Vimos vários exemplos teus de fair-play no court, às vezes mesmo em momentos cruciais — como naquela dura derrota nos quartos-de-final de Roland Garros em 2022 contra o Marin Cilic, quando estiveste mais perto do que nunca das meias-finais de um torneio do Grand Slam.

Sim, mas depois do encontro vi os resumos e as imagens virtuais mostraram que a bola realmente tinha sido fora!

De qualquer forma, demonstras sempre fair-play relativamente aos outros, mas és especialmente duro contigo mesmo. Qual é a tua opinião sobre isso? Ser tão exigente contigo é o que faz de ti um concorrente de topo?

É algo com o qual tenho tentado lidar, ser demasiado duro comigo. Em relação ao fair-play, acho que é apenas a natureza própria — não se trata de ser justo ou injusto. Tenho a certeza de que, às vezes, não estou a ser justo aos olhos das outras pessoas. Cada jogador tem uma abordagem diferente para enfrentar a pressão, cada um tem uma personalidade diferente. Eu não gosto de mentir. Eu tenho minha própria visão das coisas e a minha própria maneira de lidar com uma situação; se eu sei que a bola do meu adversário é boa e o árbitro não viu, digo logo que foi.

Ganhaste fama de ‘good guy’ entre os aficionados e adeptos; vimos isso especialmente em Monte-Carlo, com o estádio todo a gritar o teu nome e a ajudar-te numa final que estava muito complicada. Como viste esse apoio?

Não sei se sou um ‘good guy’ ou não, porque ninguém é perfeito. O que posso dizer é que na minha vida cometi muitos erros, magoei muitas pessoas, a minha família, entes queridos — não sou bom ou mau, mas com esse apoio certamente posso ser uma pessoa melhor e melhorar para partilhar com os outros. Ter esse apoio faz-me sentir muito grato, porque não é fácil conseguir apoio em geral. Conseguir um bom apoio do público é muito difícil e estou muito grato por ter esse apoio. Começo a senti-lo cada vez mais e quero agradecer a cada pessoa que me apoia.

És muito emotivo e não escondes os teus sentimentos; houve alguns desaires difíceis — especialmente nos quartos-de-final dos torneios do Grand Slam — em que pareceste especialmente triste. Qual foi o impacto real que esses desaires tiveram sobre ti e o que aprendeste nesses momentos?

Eu não consegui lidar com a pressão ou as emoções naqueles momentos, a minha cabeça estava a pensar muito e no futuro — e quando não nos focamos no presente, começamos a stressar. Espero ter aprendido que não precisamos de pensar à frente ou que estou perante uma chance que não posso deixar escapar. Talvez a realização desses momentos cruciais possa ajudar alguns jogadores, mas é o meu caso. Aprendi que quanto mais penso que esses encontros podem ser a chance de uma vida, mais fico stressado. Quando consigo ficar no momento e não pensar no futuro, é quando jogo melhor.

Treinas muito em Espanha, tens um treinador espanhol no Fernando Vicente e um agente espanhol no Galo Blanco. Entretanto, o também espanhol Alberto Martín juntou-se à tua equipa, para além do fisioterapeuta português Carlos Costa. Vimos no passado jogadores russos estabelecerem sua base na Espanha, de Marat Safin a Svetlana Kuznetsova; Lembro-me de Igor Andreev me dizer que a primeira coisa que aprendeu na Espanha foi ‘sofrer’. O que aprendeste em Espanha?

Eu realmente não tenho residência em Espanha como alguns deles tiveram. Tenho um treinador espanhol e quando há tempo entre os torneios venho frequentemente a Espanha para treinar, especialmente durante sequências de torneios na Europa. Na verdade, não escolhi a Espanha; apenas aconteceu que o Galo Blanco me ajudou quando eu precisava de um treinador: ele aconselhou-me o Fernando, eu experimentei e apaixonei-me pelo seu modo de treinar. Antes da ‘situação’ (nota do editor: o conflito entre Rússia e Ucrânia), eu praticava um pouco por todo o lado, mas minha base era sempre na Rússia e é lá que a minha família está. Agora não regresso à Rússia com tanta frequência, mas financeiramente temos a opção de os meus pais poderem voar para me ver nos torneios. Tenho um visto gold no Dubai, normalmente passo metade de dezembro lá.

Mas tens uma equipa técnica maioritariamente espanhola; foi pela boa reputação do tênis espanhol ou porque sentiste que a escola espanhola poderia ajudar no desenvolvimento do teu ténis?

Não, não foi por causa da reputação espanhola no ténis. Simplesmente aconteceu. Já tive treinadores de vários países. Conheci o Galo Blanco pela primeira vez quando ele treinava o meu amigo Karen Khachanov; nos torneios passávamos tempo juntos e apaixonei-me pelo que ele dizia ao Karen, pela maneira como falava com o Karen sobre ténis e o modo como eles treinavam. Fazia tudo muito sentido para mim, a direção que eles estavam a tomar. Quando terminei com meu anterior treinador, não sabia bem o que fazer a seguir; então perguntei ao Galo e ele disse-me que havia um treinador muito bom que me podia aconselhar — e que se chamava Fernando Vicente. Disse-me para tentar e foi o que eu fiz. Diria que o Galo e o Fer são diferentes dos outros treinadores espanhóis. Olho para todos os treinadores e não há nenhum como o Fer. Para mim não tem a ver com Espanha, tem a ver com o Fer. Se tivesse a ver com o ténis espanhol, eles punham-me a jogar mais atrás da linha de fundo, a bater a direita com mais topspin e a servir sempre em kick. Mas eu sou o mesmo jogador de antes, ele só me faz melhorar para que eu possa jogar melhor. O Fer não quer que eu jogue como um espanhol. Porque quando o (Igor) Andreev veio para Espanha, eles adaptaram completamente o jogo dele aos courts de terra batida.

É interessante dizeres que o Galo Blanco e o Fernando Vicente não são como os tradicionais treinadores espanhóis. Por que achas isso?

É apenas o modo como eles são, o jeito como explicam as coisas — eles explicam de uma forma que eu sinto que tem muito a ver comigo. Se eu fosse ouvir outros treinadores espanhóis, não conseguiria escutar o que dizem. Mas o Galo e o Fer veem as coisas do meu ponto de vista, entendem a minha maneira de ver o desporto e o mundo. Estamos no mesmo comprimento de onda, vemos as coisas na mesma direção, mesmo sendo de países e culturas tão diferentes.

Jogaste com todos os melhores jogadores da chamada ‘Geração de Ouro’ e ganhaste a cada um deles. E como é difícil escapar ao debate sobre quem é o melhor de todos os tempos, podes dar a tua opinião sobre o que sempre tornou os Big 3 tão difíceis de bater?

O que posso dizer? O ‘Rogelio’ é o maestro… como quando estamos na escola, numa aula de matemática, e o professor diz ‘sigam este exemplo’ e nós tentamos seguir. Ele é exemplar, um exemplo perfeito. O Novak é inacreditável, o modo como está a jogar e a ganhar — ele ainda é o melhor. O Rafa é irreal e para mim ele tem a melhor mentalidade de todos os desportos, nunca vi um desportista com a força mental dele. Pode acontecer com o Roger e o Novak, quando estão em baixo, perder encontros rapidamente; mas quando o Rafa está a perder e mesmo jogando mal, ainda obriga os adversários a lutar por mais de duas horas para lhe ganhar num encontro à melhor de três sets. Ele faz os outros sofrerem. Por isso ele arranja sempre maneira de vencer, porque não há muita gente disposta a sofrer tanto tempo — todos querem vencer com facilidade.

Certa vez disseste que «os meus encontros são piores do que montanhas-russas, são roletas russas». Os jogadores russos têm personalidades muito interessantes — diria mesmo que vocês são personagens de Dostoievski com um tipo especial de carisma: Chesnokov, Volkov, Kafelnikov, Safin e Davydenko antes, agora o Daniil e tu…

As montanhas-russas são mais fáceis! Bem, não acho que seja porque somos russos, senão seríamos parecidos. Mas cada jogador é diferente. Cada um de nós é o oposto do outro — eu, o Daniil (Medvedev), o Karen (Khachanov), o Aslan (Karatsev). Não é a Rússia, senão seriamos mais ou menos iguais. Se chegares a um nível superior onde competes contra os melhores, tens de ter um caráter forte. Olhando para o top 10, todos têm fortes personalidades e algo de único que ninguém mais tem. Acontece que alguns russos (como o Yevgeny e o Marat) chegaram ao mais alto nível na sua época e é o mesmo agora. Se olharmos para os americanos, eles também são bem diferentes uns dos outros…

Bem, há algo de especial acerca dos tenistas russos; têm um sentido de humor peculiar e dão sempre excelentes conferências de imprensa. Por exemplo, estás um pouco na linha de Marat Safin e quando surgiste no circuito, as pessoas compararam-te muito a ele por causa do seu temperamento. Quais foram as tuas referências enquanto crescias?

Sim, eu falava muito com o Marat quando era criança! As minhas maiores influências foram o Safin e o Nadal. Eram os jogadores de quem eu gostava enquanto crescia. Eu via muito o Marat jogar, pedi à minha mãe para me dar as mesmas roupas da Adidas que ele usava. Depois apareceu o Rafa, começou a ganhar e eu apaixonei-me por ele ter um estilo tão único — camisas sem mangas e calções à pirata que ninguém tinha usado antes, então pedi à minha mãe para comprar um equipamento igual para mim. Eu era um grande fã dos dois. Depois comecei mais a ser eu próprio… aprendi com o Fer a ser mais aberto e a ser eu próprio. Eu era tímido e não queria abrir-me porque não sabia se as pessoas iriam gostar de mim ou não; com o Fer percebi que o melhor é sermos nós próprios e, se alguém não gosta de nós, pelo menos estamos a ser nós próprios.

O que te fez escolher o ténis?

Não me lembro bem porque escolhi o ténis. Claro que a minha mãe era treinadora de ténis. Então, quando eu nasci, ela levava-me para todo o lado. O meu pai era pugilista, o meu avô era lutador greco-romano e eles também me levavam com eles, mas eu queria fugir; eu não queria estar lá na academia com os boxeadores e os lutadores… eu queria era jogar. Talvez porque nos courts houvesse crianças por perto, enquanto no ginásio havia lutas de adultos. Lembro-me de a minha mãe me contar que comprou uns brinquedos quando eu era criança e os colocou em disposição juntamente com outras coisas para ver qual deles eu escolhia… e eu não escolhi nenhum, peguei uma raquete que estava ali ao lado.

Foste um júnior de topo e conquistaste o título sub-18 em Roland Garros muito jovem, com apenas 16 anos; as pessoas diziam que serias o próximo grande campeão, mas demoraste algum tempo até chegares ao top 10.

A primeira transição dos juniores para os profissionais foi super rápida — quando tinha 16 anos já estava perto do top 300, mesmo quando ganhei Roland Garros em 2014 já estava a 500 ou algo assim. Em 2015, joguei no Godó em Barcelona e venci o Fernando Verdasco. O primeiro salto foi super rápido, mas depois todos começaram a dizer que eu seria o the next big thing porque estava a ganhar tudo nos juniores e a jogar muito bem nos profissionais. Comecei a pensar que era fácil e então a realidade faz-nos acordar. Eu diria que de 2015 até o US Open de 2017 eu fui confrontado com a realidade. O Fer ajudou-me muito, porque eu não sabia nada antes de o conhecer. Quando comecei a trabalhar com o Fer, comecei a ver o que era a realidade, que eu não era nada bom, que precisava de aprender a jogar ténis. Fiquei super motivado porque sempre gostei de trabalhar, ninguém precisa de me forçar. Toda a gente dizia que eu era muito bom, mas eu não estava a ganhar muitos encontros e andava stressado; com o Fer eu percebi porque não estava a ganhar, ele abriu-me os olhos. Então trabalhamos muito e comecei a melhorar para poder competir com os jogadores do top 100.

E como vês a evolução do teu jogo no futuro?

Eu não gosto de pensar demasiado à frente, às vezes vamos muito à frente e eu tento não fazer mais isso. Sei que tenho boas pancadas, uma boa equipa, há muitas coisas a melhorar e a principal é a concentração. Não importa como vai evoluir o meu jogo, o que sei é que tenho de melhorar e assim seguramente jogarei muito melhor.

Tens o mesmo nome de um renomado artista russo do século XV, o lendário pintor Andrey Rublev. Houve até um filme famoso sobre ele. Interessas-te pelas artes, por música? O que te interessa para além do tênis? Chegaste a fazer parte de uma banda…

Não, eu fui apenas um convidado – não era a minha banda. Eu apenas lhes perguntei: «Posso ir ver o que vocês estão a fazer? Seria muito interessante». Aí eles disseram «se quiseres pode participar». E foi assim. Na verdade eu gosto de qualquer tipo de música. E gosto muito de rock clássico — Iron Maiden, Guns & Roses, muitas bandas. Mötley Crüe é muito bom.

A relojoaria tradicional é uma arte mecânica e estás associado a uma marca relojoeira de prestígio, a Bulgari. Tornaste-te mesmo no primeiro embaixador da Bulgari no ténis e isso foi surpreendente porque a Bulgari é uma marca que geralmente não está no desporto. Como surgiu a associação com e porque achas que eles te escolheram?

Em 2020, a Bulgari voltou a introduzir a sua linha de relógios em alumínio — e, sendo um relógio desportivo, fui convidado para fazer uma sessão de fotografia com a Bulgari para a revista GQ na Rússia. Para além disso, a Bulgari tem um projeto social (Save the Children) e achei muito interessante. É uma marca de prestígio e só aspetos positivos na associação. Quando fiz as sessões fotográficas conheci a equipa russa da Bulgari e estabelecemos uma boa conexão; começamos a conversar, acho que eles gostaram de mim, eu gostei deles, apaixonámo-nos, eu apaixonei-me pela marca e depois tornei-me embaixador internacional da Bulgari.

Hoje em dia, todos os melhores jogadores de ténis do mundo têm contrato com uma marca de relógios e alguns deles tornaram-se mesmo verdadeiros aficionados. Falas com eles sobre relógios?

Não sou muito de falar, faço o que sinto e tenho uma grande afinidade pela Bulgari e pelo que faz enquanto marca de relógios e joias, a filosofia da empresa. Não sou realmente alguém que fala com outros jogadores sobre relógios, mas encontrei-me com o chefe da divisão de relógios da Bulgari, Antoine Pin — conversamos, explicaram-me como funcionam os relógios mecânicos. Preciso de ir à manufatura da Bulgari na Suíça e ver como são feitos os relógios para entender melhor!

Atualmente, um dos rituais mais conhecidos no ténis consiste em ver os melhores jogadores ir buscar ao saco o relógio do patrocinador para o colocar no pulso antes das entrevistas no court. Era o que fazias. Como conseguiste ganhar o hábito?

Depois de alguns encontros tensos não é fácil lembrar-nos de pôr o relógio… nas primeiras vezes esqueci-me, mas depois virou um hábito — após cada encontro vou sempre para o meu banco meter a raquete e a bandana dentro do saco e comecei a deixar o relógio ali mesmo à mão, pelo que ficou mais fácil lembrar-me de o pôr.

Mas em Wimbledon surgiste pela primeira vez a jogar encontros oficiais com um relógio no pulso, a edição especial ultraleve Aluminium Match Point. O que te fez mudar?

Acabou por ser fácil, porque o relógio assenta muito bem no pulso. Falamos sobre o assunto e eu disse que achava que seria bom para a marca que usasse um relógio também durante os encontros — para além disso, as coisas que têm feito na indústria da moda são impressionantes. Por isso acho que se ajusta bem; trazer a moda e o estilo para o court de ténis é um bom passo, pelo que a decisão acabou por ser fácil.

A Bulgari é uma joalheria de renome, mas seus relógios também são excepcionais; a Bulgari vem ganhando regularmente prêmios Watch Of The Year em todos os lugares nos últimos doze anos, especialmente devido à coleção Octo Finissimo. Eu já te vi com modelos Octo e também da linha Aluminium — quais é que tens?

Tenho um Aluminium Match Point Edition, um Aluminium Chronograph, um Aluminium GMT com segundo fuso horário, um Octo Finissimo em titânio, um Octo Finissimo Skeleton em cerâmica preta e um Octo Roma. Gosto muito de usar o Octo Finisimo Skeleton, o visual é completamente diferente de qualquer outro relógio! É um relógio super cool. E vou alternando os Octo com os Aluminium.

Agora tens um fisioterapeuta português, o Carlos (‘Charlie’) Costa, e já enfrentaste jogadores portugueses — nomeadamente o João Sousa. O que podes dizer sobre eles?

Conheço o João e o Gastão, os outros não conheço bem. O João já anda cá há muitos anos, mas ainda sabe jogar um bom ténis. É talentoso, treinei com ele várias vezes e é super difícil de bater. Ele é muito rápido, tem uma direita muito boa.

E como vês o futuro do tênis? Enfrentaste os Big 3, agora há três jovens que são apontados como os futuros Big 3 — Carlos Alcaraz, Jannik Sinner, Holger Rune…

Todos eles têm um potencial irreal — mas, se olharmos bem, todos os 20 melhores jogadores têm jogo para estar no top 10. O nível aumentou muito e agora há mais jogadores a lutar pelo top 10 e por títulos do Grand Slam do que antes. Todos são perigosos e há novos jogadores super perigosos a chegar-se ao topo, como o Jack Draper. Eu estava algo preocupado com o que iria acontecer com o ténis quando o Roger, o Rafa e o Novak se aposentassem, porque havia o risco de muitas pessoas deixarem de seguir a modalidade. Mas com a nova geração temos muito mais opções e os jogadores têm personalidades completamente diferentes — e as pessoas estão interessadas no que os novos jogadores dizem, como estão a jogar.

A série de documentários da Netflix tem ajudado o ténis a atingir um público mais amplo e a mostrar as diferentes personalidades de uma maneira diferente. O que achaste dos episódios que foram ao ar?

Depende do ponto de vista e de como encaramos a coisa. Para quem não joga ténis, acho interessante que as pessoas saibam o que os jogadores realmente sentem. Claro que, como tenista, sei como são as coisas. A certa altura, ao ver os documentários da série, comecei a stressar-me muito porque, para quem está no ténis e nos torneios, algumas coisas são normais; da maneira que eles mostram a coisa, depois de terminar um episódio perguntei-me a mim mesmo “como vou jogar tênis ou até mesmo vou treinar amanhã”? Fiquei tão stressado que não conseguia dormir, precisei de ver umas séries idiotas para voltar a relaxar a cabeça! Tal como no ténis, tenho certeza de que, para o pessoal da Fórmula 1, a série Fórmula 1 da Netflix também não é tão interessante porque eles já sabem como são as coisas.

Foi uma longa conversa… há algo mais que gostarias de me dizer?

Sim, que estou feliz por terminar esta longa entrevista! (risos)

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